A gravidez na adolescência é um tema que vai muito além dos números e estatísticas. Ela envolve sonhos interrompidos, medos intensos e uma jornada repleta de desafios emocionais e sociais. Segundo a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline e especialista no tema, a combinação entre adolescência e maternidade pode aumentar significativamente os riscos de depressão e ansiedade.
“A adolescência já é uma fase de intensas mudanças emocionais, e quando somada aos desafios da gestação e da maternidade, o impacto na saúde mental pode ser ainda maior”, explica Rafaela. Por isso, o acolhimento e o suporte adequado são essenciais para transformar essa experiência em uma jornada mais leve e segura.
Gravidez na adolescência: um período de vulnerabilidade emocional
A adolescência é, por si só, uma fase de descobertas e transformações. Quando uma gestação surge nesse contexto, os desafios se multiplicam. De acordo com Rafaela, a prevalência de gestações não planejadas em mulheres com menos de 20 anos varia entre 15% e 20%. Além disso, a psicóloga reforça que a falta de informação e os fatores sociais, religiosos e culturais contribuem para esse cenário.
“Precisamos abordar essa temática com sensibilidade, levando informações e orientações não apenas aos adolescentes, mas também aos pais, professores e profissionais da saúde”, destaca a especialista. Afinal, sem uma rede de apoio, o trabalho de prevenção e acolhimento pode se tornar ineficaz.
Maternidade precoce: os desafios emocionais e sociais
Para muitas jovens, a descoberta de uma gravidez na adolescência vem acompanhada de medo, insegurança e, muitas vezes, solidão. Nicole Gomes, hoje com 20 anos, viveu essa experiência aos 16. “Fiquei em choque e pensei que não conseguiria dar conta. As pessoas sempre falam que uma gravidez na adolescência muda tudo, e eu tinha medo de não ter apoio”, relata.
Apesar de contar com o suporte da família, Nicole enfrentou desafios como o afastamento do pai do bebê e o julgamento de amigos. “Minha mãe ficou receosa no começo, mas me ajudou. Meu pai disse que já desconfiava e minha irmã ficou dividida entre a preocupação e a felicidade. Mas o mais difícil foi perceber que, dos muitos amigos que eu tinha, apenas uma realmente esteve ao meu lado”, relembra.
Além disso, a jovem precisou lidar com os impactos na sua vida escolar e profissional. “Parei de estudar no começo porque tinha medo do que as pessoas falariam. Depois que meu filho nasceu, voltei aos estudos e tive que buscar empregos que me permitissem estar com ele. Meu maior receio sempre foi perder momentos importantes da infância dele”, afirma.
Hoje, com quase 20 anos e mais maturidade, Nicole explica que “a maternidade não é fácil, principalmente no começo. É normal sentir medo e insegurança, mas aos poucos tudo melhora. Com apoio e paciência, a gente aprende e segue”.
Depressão e ansiedade: os riscos à saúde mental
A psicóloga alerta que a combinação entre adolescência e gestação pode aumentar os riscos de depressão e ansiedade. “Gestantes adolescentes são um grupo de risco para a saúde mental. A fase da adolescência já é um período potencial de risco para esses transtornos, e o período perinatal também é crítico”, explica.
Por isso, é fundamental ficar atento aos sinais de sofrimento psíquico, como tristeza persistente, falta de motivação e rejeição ao bebê. “Nem toda rejeição ao bebê está ligada a transtornos mentais, mas uma avaliação psicológica é essencial para entender o contexto e oferecer suporte adequado”, reforça a especialista.
Acolhimento: a chave para transformar vidas
Um dos pontos mais importantes no enfrentamento da gravidez na adolescência é o acolhimento. Segundo a especialista, a sociedade costuma responsabilizar apenas a jovem pela gestação, ignorando o papel do parceiro e das condições sociais que envolvem a situação.
“Acolher essas jovens com empatia e respeito é o primeiro passo para transformar o futuro delas e dos bebês. Com suporte adequado e um olhar empático sobre as barreiras culturais e sociais, é possível enfrentar os desafios da gestação precoce de forma mais segura”, afirma a psicóloga.
5 formas de acolher jovens mães e prevenir a depressão e ansiedade
- Evite julgamentos
Frases como “você estragou sua vida” só aumentam o isolamento da adolescente. Acolher sem críticas é essencial para que ela se sinta segura e tenha o suporte necessário para enfrentar a gestação. - Incentive o início do pré-natal
Muitas jovens escondem a gravidez por medo ou vergonha, o que pode atrasar o início do pré-natal e aumentar os riscos de complicações. Oferecer apoio emocional é essencial para que busquem atendimento médico quanto antes. - Fique atento a sinais de depressão
Rejeição ao bebê, tristeza persistente ou falta de motivação podem ser sinais de depressão e ansiedade. Uma avaliação psicológica é fundamental para entender o contexto e oferecer suporte adequado. - Apoie a continuidade dos estudos
O abandono escolar é uma das consequências mais comuns da gravidez precoce. Com apoio familiar e uma rede de apoio, é possível reorganizar a rotina para que a jovem conclua os estudos. - Oriente sobre os direitos disponíveis
Muitas adolescentes desconhecem que têm acesso a serviços como pré-natal gratuito pelo SUS e, em casos previstos em lei, ao aborto legal. Informar sobre esses direitos pode salvar vidas e oferecer mais segurança durante a gravidez.
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