A atriz Fernanda Torres recentemente fez uma declaração pública se desculpando pelo uso de blackface em um esquete do programa humorístico ‘Sexo Oposto’, exibido no ‘Fantástico’ há quase duas décadas. O clipe, que voltou a ser compartilhado nas redes sociais, gerou um novo debate sobre questões raciais e representatividade na mídia.
Em entrevista à revista Deadline, especialista em cinema de Hollywood, a atriz expressou seu profundo arrependimento pelo ocorrido. “Há quase 20 anos apareci com blackface em um esquete de comédia de um programa de TV brasileiro. Estou muito arrependida por isso. Estou fazendo esta declaração porque é importante para mim abordar isso rapidamente e evitar mais dor e confusão“, declarou.
O que é blackface?
A prática de blackface consiste em uma pessoa, geralmente branca, pintar o rosto de preto ou usar maquiagem exagerada para imitar características físicas e comportamentais associadas a pessoas negras. Essa prática surgiu no século XIX em espetáculos de teatro e, muitas vezes, era usada para ridicularizar e estereotipar os negros, mostrando-os de forma inferior ou caricata.
Possui teor racista porque reforça estereótipos negativos e desumaniza as pessoas negras, tratando-as como objetos de piada e entretenimento. Além disso, ao fazer uso dessa prática, muitas vezes se desconsidera a história de opressão e discriminação vivida pelos negros, minimizando as dificuldades que enfrentam. O blackface perpetua a ideia de que a cultura negra pode ser “imitada”, mas sem o reconhecimento do sofrimento histórico e das desigualdades que os negros enfrentam.
No esquete em questão, Fernanda Torres interpretou dois personagens: Solange, uma dona de casa, e Dalva, sua funcionária doméstica negra – para interpretá-la, a atriz utilizou maquiagem para escurecer seu tom de pele.
Torres ressaltou que, na época da gravação, a conscientização sobre o racismo e as implicações do blackface ainda não eram amplamente reconhecidas no Brasil. “Apesar dos esforços dos movimentos negros, a discussão sobre a história racista e o simbolismo do blackface não estava presente na consciência pública dominante”, afirmou.
Ela continuou sua declaração enfatizando a importância de manter viva a conversa sobre práticas racistas: “Devemos continuar discutindo isso para evitar a normalização de comportamentos discriminatórios, tanto no passado quanto no presente. Como artista e cidadã global, estou comprometida com a busca por mudanças significativas que visem um mundo sem desigualdade e racismo”.
Prejudicada na corrida do Oscar?
Nos últimos meses, Fernanda Torres ganhou destaque internacional após receber um Globo de Ouro e ser indicada ao Oscar de melhor atriz por sua atuação no filme ‘Ainda Estou Aqui’. A matéria da Deadline também destacou que o esquete do ‘Fantástico’ não deve ser associado à performance premiada da atriz no longa-metragem.
A repercussão negativa nas redes sociais levou alguns fãs a acusarem o portal de resgatar a cena polêmica com o intuito de prejudicar as chances da atriz na premiação da Academia. Atualmente, Torres concorre ao Oscar ao lado de outras atrizes renomadas, como Demi Moore e Cynthia Erivo.
Em ‘Ainda Estou Aqui’, Fernanda interpreta Eunice Paiva, uma mulher que decide estudar direito após o trágico assassinato de seu marido pela ditadura militar. O filme dirigido por Walter Salles já atraiu mais de três milhões de espectadores nos cinemas brasileiros e se destacou como o segundo filme nacional com mais indicações ao Oscar, apenas atrás de “Cidade de Deus”.
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