A síndrome da Chapeuzinho Vermelho é um termo que ilustra como muitas mulheres têm dificuldade em reconhecer comportamentos abusivos disfarçados de carinho e atenção. Assim como na história infantil, nos ensinam a confiar no caçador protetor, enquanto ignoramos os sinais de perigo do “lobo” que se aproxima. Esse fenômeno reflete diretamente a forma como nos socializaram desde pequenas: sermos agradáveis, submissas e, acima de tudo, responsáveis por transformar situações difíceis.
Mayra Cardozo, advogada e especialista em gênero, explica: “A Síndrome da Chapeuzinho Vermelho é, portanto, mais do que ingenuidade. É o resultado de uma cultura que nos ensina a priorizar a aceitação e a validação masculina, a acreditar que se formos boas o suficiente, seremos capazes de transformar qualquer predador”.
Como os mitos reforçam relacionamentos tóxicos
Histórias como a de Barba Azul, resgatada por Clarissa Pinkola Estés em Mulheres que Correm com os Lobos, são exemplos de como o predador pode se disfarçar até que seja tarde demais. Barba Azul, um nobre que seduz mulheres inocentes, representa o arquétipo do predador que usa charme para mascarar sua verdadeira intenção.
Da mesma forma, em relacionamentos abusivos, sinais de perigo são frequentemente ignorados. Racionalizamos comentários que diminuem, atitudes controladoras e falta de empatia como “estresse” ou “momentos ruins”.. No entanto, segundo Mayra, é fundamental enxergar esses comportamentos como alertas, e não como algo que cabe a nós corrigir.
Por que ignoramos o perigo em relacionamentos abusivos
Racionalizar comportamentos nocivos é uma forma de autoengano que perpetua o ciclo de abuso. Não se trata apenas de reconhecer o perigo, mas de ter coragem para se afastar antes que seja tarde.
Como superar a síndrome da Chapeuzinho Vermelho
A cura começa com o resgate da capacidade de ouvir nossos instintos e dizer “não” quando algo não parece certo. Como lembra Mayra Cardozo, “nem todos os lobos podem ser domados — e não é nossa responsabilidade tentar.”
Para romper com narrativas que nos colocam na passividade, é essencial reaprender a valorizar nossa intuição e não temer desagradar. Mais importante, é entender que reconhecer comportamentos abusivos é um ato de autoamor, e não de egoísmo.
Não devemos esperar por um “caçador” que nos salve. Devemos nos tornar as protagonistas de nossas histórias, prontas para enfrentar e superar desafios, confiando plenamente em nossa força.
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