Uma mulher de Santa Maria do Cambucá, no Agreste de Pernambuco, foi diagnosticada com raiva humana após ser mordida por um macaco sagui. O caso, confirmado pelo Instituto Pasteur em São Paulo, destaca a persistência dessa doença quase sempre fatal no Brasil.
A paciente encontra-se internada na UTI do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife, apresentando dormência que se estendeu ao tórax, dores intensas e fraqueza muscular.
Raiva humana: uma ameaça ainda presente
A raiva, causada pelo vírus Lyssavirus, é transmitida pela saliva de animais infectados, como cães, gatos, morcegos e primatas não humanos.
Apesar de ser considerada uma doença controlada em muitos locais, os casos ainda ocorrem no Brasil, especialmente em regiões onde o contato com animais silvestres é frequente.
Segundo o Ministério da Saúde, entre 2010 e 2024, foram registrados 48 casos de raiva humana no país, sendo seis deles relacionados a primatas não humanos.
Na história dos casos de raiva humana no Brasil, apenas dois pacientes sobreviveram; todos os outros evoluíram para óbito.
Os sintomas da raiva humana evoluem em estágios, começando de forma sutil e progredindo para manifestações graves. Confira abaixo:
1. Fase inicial (período de incubação)
Geralmente dura de 1 a 3 meses após a exposição, mas pode variar de dias a anos. Nesta fase, os sintomas são inespecíficos:
- Febre.
- Dor de cabeça.
- Fraqueza geral.
- Formigamento ou sensação de dormência no local da mordida ou arranhão (sinal precoce importante).
2. Fase aguda (manifestações neurológicas)
Nesta etapa, os sintomas se tornam mais graves e incluem:
- Ansiedade e agitação.
- Insônia.
- Dificuldade para engolir (hidrofobia).
- Espasmos musculares dolorosos ao tentar beber água ou comer.
- Sensibilidade a luz, som e toque.
- Alucinações e confusão mental.
- Paralisia em partes do corpo.
3. Fase final (fase paralítica ou furiosa)
- Forma furiosa: Agitação extrema, convulsões e comportamento agressivo.
- Forma paralítica: Fraqueza muscular progressiva que evolui para coma e, geralmente, óbito.
Prognóstico
Após o início dos sintomas, a raiva humana quase sempre é fatal. Por isso, a prevenção com profilaxia (vacina e/ou soro antirrábico) após a exposição ao vírus é crucial.
Se você tiver contato com um animal potencialmente infectado, procure atendimento médico imediatamente, mesmo que os sintomas ainda não tenham surgido.
Por que o contato com animais silvestres tem aumentado?
As autoridades apontam que o desmatamento e as queimadas estão forçando animais a saírem de seus habitats naturais e a se aproximarem de áreas urbanas.
No caso da paciente de Pernambuco, acredita-se que queimadas na região levaram o sagui a buscar abrigo em áreas habitadas. Esse tipo de interação reforça o risco de transmissão da raiva e outras zoonoses.
O que fazer em caso de mordida ou arranhão por animal silvestre?
Diante de qualquer agressão por animal, o Ministério da Saúde orienta:
- Lavar o ferimento imediatamente com água e sabão. Essa é a primeira medida para reduzir o risco de infecção.
- Procurar atendimento médico o mais rápido possível. A profilaxia, que pode incluir vacina e soro antirrábico, é essencial para prevenir a evolução da doença.
- Evitar manipular animais silvestres. Eles podem ser transmissores de doenças como a raiva.
Vacinação: a principal medida preventiva
A vacinação de animais domésticos é indispensável para manter a raiva sob controle. Em áreas rurais e regiões próximas a habitats silvestres, é fundamental redobrar a vigilância.
Para humanos, a vacina antirrábica está disponível nos postos de saúde e deve ser aplicada em casos de exposição ao vírus.
Casos fatais e raras exceções
Entre os casos registrados no Brasil, apenas dois pacientes sobreviveram à raiva após o início dos sintomas. A letalidade da doença é um alerta sobre a importância da prevenção e do atendimento imediato em casos suspeitos.
Impacto ambiental e riscos crescentes
O desmatamento crescente, especialmente na Amazônia e no Cerrado, tem contribuído para o aumento do contato entre humanos e animais silvestres.
Dados do ICMBio revelam que mais de 1.200 espécies de animais estão ameaçadas no Brasil, com muitas delas vivendo próximas a centros urbanos devido à destruição de seus habitats.
Um alerta para o futuro
Casos como o de Pernambuco reforçam a necessidade de políticas públicas que integrem saúde, meio ambiente e educação. A conscientização sobre os riscos da interação com animais silvestres e a preservação dos habitats naturais são passos essenciais para evitar tragédias como essa.
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