A startup britânica DEEP anunciou planos para estabelecer, até 2027, habitats submersíveis no fundo do mar. O projeto, chamado de Sentinel, vai permitir que humanos vivam e trabalhem nas profundezas oceânicas. A expectativa é que seja possível viver em profundidades de até 200 metros por semanas, meses e até anos.
As estruturas habitacionais contarão com quartos, banheiros, áreas de trabalho e espaços sociais, oferecendo condições para estadias prolongadas sob a água. O local deve ter capacidade para abrigar uma tripulação de até 6 pessoas.
Kirk Krack, líder de desempenho de mergulhadores humanos na Deep, ressalta que o último projeto do tipo foi o Aquarius Reef Base, instalado em 1987. Ele considera que é preciso evoluir na área: “Estamos tentando trazer a ciência e a engenharia oceânica para o século XXI.”
Como será o Sentinel da DEEP?
O primeiro teste do Sentinel será em uma pedreira de calcário na Inglaterra. O local tem 600m de comprimento, 100m de largura, 80m de profundidade, 20m de visibilidade, de água clara. Segundo Sean Wolpert, presidente da DEEP, a primeira vez em águas profundas deve ocorrer até o final de 2026.
A instalação definitiva deve oferecer recursos para até 28 dias, quando o abastecimento ocorre. Os gases necessários para a vida serão trazidos por meio de um cordão de uma boia da superfície. Comida, água e outros suprimentos serão enviados nas trocas da tripulação.
No entanto, a necessidade de reabastecimento não será um limitador para a Deep: “Uma vez que você está saturado, não importa se você fica lá por seis dias ou seis anos, mas a maioria das pessoas ficará lá por 28 dias devido às mudanças de tripulação”, avalia Krack.
O impacto para os pesquisadores
A novidade promete ser um marco para a pesquisa marinha. Atualmente, um ser humano só consegue ficar a 200 metros abaixo do mar por 10 minutos, seguido de 6 horas de descompressão. Com isso, a atuação de pesquisadores em baixo d’água fica limitada.
Com a possibilidade de estadias prolongadas, cientistas poderão realizar estudos mais aprofundados sobre a biodiversidade marinha, monitorar os efeitos das mudanças climáticas e explorar recursos naturais de maneira sustentável. A conservação também é pauta para os estudiosos: “É sobre aumentar a conscientização e destacar a importância do oceano, que é o coração e os pulmões de nosso planeta, responsável pelo oxigênio em pelo menos a cada dois suspiros que você dá”, diz Wolpert, líder da DEEP.
Kirk Krack acrescenta: “Com nossos habitats subaquáticos, seremos capazes de fazer sete anos de trabalho em 30 dias com menor tempo de descompressão. Mais de 90% da biodiversidade do oceano vive a 200 metros de profundidade e nas linhas costeiras, e conhecemos apenas cerca de 20% dela”.
Antes do Sentinel, há o Vanguard
Se a expectativa de lançamento do Sentinel é só para os proximos anos, a DEEP tem um projeto com prazo mais próximo: o Vanguard. O pequeno habitat modular, que servirá como um protótipo, deve abrigar três pessoas até profundidades de cerca de 100 metros.
O primeiro teste será já no primeiro trimestre 2025, em uma pedreira no País de Gales. A plataforma tem o tamanho de um contêiner de transporte, e pode ser transportado e abastecido por um navio. Os mergulhadores poderão trabalhar no fundo do mar por horas antes de voltarem para o módulo para refeições e descanso.
Os dados coletados pela Vanguard este ano ajudarão a pavimentar o caminho para o Sentinel. Segundo os líderes da DEEP, ambos os projetos contam com energia de reserva suficiente para fornecer 96 horas extras de suprimentos e recursos necessários para a vida.
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