Um caso repercutiu nesta semana envolvendo a velocista brasileira Flávia Maria de Lima, convocada para as Olimpíadas em Paris de 2024 para disputar a medalha na prova de 800 metros. Enquanto compete em uma das provas mais importantes de sua trajetória no esporte, a atleta trava uma batalha judicial pela guarda de sua filha de 6 anos. A alegação do pai da criança é abandono parental.
Flávia usou o espaço em suas redes sociais em junho deste ano para explicar que, após um conturbado processo de divórcio, o ex-marido protocolou judicialmente a guarda da filha em todas as viagens para competições que ela realizou. A justificativa é que a atleta estaria negligenciando os cuidados com a pequena enquanto fazia viagens internacionais a trabalho.
“Toda competição que eu participava, ele protocolava um processo na tentativa de tirar a guarda da minha filha, tentando me desestabilizar. E utilizando os Jogos Olímpicos como algo para tentar tirar minha filha de mim. Como se fosse um crime uma mulher ter profissão, e se fosse crime uma mãe ter que viajar para trabalhar”, contou a velocista na publicação no Instagram.
Flávia teve que equilibrar a vida de atleta de alta performance com a criação de sua filha, enfrentando dificuldades financeiras e falta de apoio. Mesmo assim, ela conseguiu patrocínios e pontos importantes na Europa, garantindo sua participação nas Olimpíadas de Paris 2024.
Para entender se as alegações contra Flávia Maria de Lima são um reflexo do machismo, AnaMaria conversou com Gabi Sabino, autora do livro ‘Política: substantivo feminino’ e ex-diretora de relações institucionais da Associação Portuguesa de Desportos, que detalhou quais medidas podem diminuir as desigualdades de gênero no esporte. Confira a seguir!
Alegação de abandono parental e a falta de equidade no esporte
Pati Pontalti, jornalista e influenciadora, destacou a desigualdade no esporte enfrentada por atletas. “Você já viu algum atleta acusado de abandono parental ao viajar para disputar as Olimpíadas? E jogador de futebol para a Copa do Mundo?”, questionou em uma publicação de seu perfil no Instaram.
“É um absurdo! Mulher não tem sossego nem quando é uma atleta de elite, que compete em uma Olimpíada. Ao contrário, usam a própria profissão como argumento de um processo judicial. A velocista Flávia Maria de Lima está passando por violência processual, o que só confirma que a mãe que corre atrás de um sonho, que se diverte, que trabalha, que vive, muitas vezes, é acusada de irresponsável, enquanto o homem sempre é esforçado, batalhador, obstinado, sonhador. Ahã!”, completou Pati.
Mulheres no esporte e licença parental
Viver do esporte, especialmente em um país como o Brasil, onde há pouco fomento para esse setor, é um grande desafio. Contudo, como em diversas áreas do trabalho, para as mulheres o desafio é dobrado. Além do baixo incentivo e poucas políticas públicas voltadas para o esporte, as atletas femininas de alto desempenho que são mães precisam conciliar a maternidade com as competições.
É o caso de Flávia Maria de Lima. A autora de ‘Política: substantivo feminino’ explica que atletas femininas enfrentam desigualdade de financiamento, estigmas de gênero e falta de representatividade. Elas também lidam com discriminação e apoio limitado para transição de carreira.
“Superar essas barreiras exige políticas de igualdade de gênero, priorização orçamentária por parte do Governo Federal, promoção de lideranças femininas, e medidas legais contra discriminação e assédio no esporte”, diz Gabi.
Uma das políticas públicas que pode ajudar a diminuir tal desigualdade no esporte é a licença-maternidade adaptada para atletas. Programas de retorno ao esporte após a gravidez e centros de treinamento com creches também são um caminho, enquanto iniciativas privadas oferecem patrocínios específicos e suporte adicional.
A especialista destaca as colaborações com ONGs e empresas patrocinadoras como agentes para fornecer suporte financeiro, psicológico e educacional, ajudando mães atletas a equilibrar carreira e responsabilidades parentais.
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