O clássico “Eles Não Usam Black-Tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, retorna aos palcos em uma nova montagem dirigida por João Velho. A peça estreia no dia 8 de agosto no Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro, celebrando os 90 anos do autor e explorando temas ainda muito presentes na sociedade brasileira.
Conversamos com João Velho, ator e diretor, sobre o processo de adaptação e direção desta obra marcante, os desafios enfrentados durante a produção, e suas expectativas para o impacto da peça no público.
Adaptando um Clássico ao Contexto Atual
Perguntei a ele sobre o processo de adaptar e dirigir “Eles Não Usam Black-Tie” para o público atual, especialmente considerando o contexto social e político do Brasil hoje:
“Eu não adaptei o texto completamente, apenas fiz pequenas mudanças de linguagem para refletir os maneirismos da época que estão fora de uso hoje. Mantive todas as discordâncias no português, como o uso do plural. A peça aborda questões familiares e sociais que ainda ressoam hoje, explorando a tensão entre o individualismo e o bem coletivo. Mesmo que tenha sido vista como ultrapassada em certos momentos, o contexto atual traz de volta a necessidade de discutir temas como luta de classes, ética e amor. No final, a decisão da Maria reflete tanto a opinião do autor quanto a nossa, tornando a peça uma batalha de ideais cativante e relevante.”
Desafios e Superações
João compartilhou os principais desafios que ele e o elenco enfrentaram ao trazer à vida a complexidade dos personagens e os conflitos abordados por Guarnieri, e como superaram essas dificuldades:
“Os personagens de Guarnieri são profundos e cheios de nuances, o que exigiu um trabalho intenso de interpretação e compreensão de suas motivações. Houve um esforço coletivo para manter a autenticidade dos diálogos e das interações, e várias sessões de ensaio foram dedicadas a discutir e explorar cada detalhe. Superamos os desafios com muito diálogo e colaboração, tanto entre os atores quanto com a equipe de produção.”
A Influência de Gianfrancesco Guarnieri
Sobre a influência dos 90 anos de Guarnieri na produção e encenação da peça, João destacou: “Celebrar os 90 anos de Guarnieri trouxe uma responsabilidade extra para fazer jus à sua obra. Foi um incentivo para mergulharmos ainda mais fundo nos temas abordados por ele, entendendo seu impacto histórico e sua relevância contínua. Esperamos que o público saia da peça refletindo sobre os mesmos dilemas que Guarnieri explorou, sentindo a urgência dessas questões em nossos dias.”
Um Marco na Carreira
Por fim, João Velho relembrou o personagem de televisão que mais marcou sua carreira e uma curiosidade sobre as gravações: “O personagem que mais marcou minha carreira foi o Catraca, de ‘Malhação 2004’. É impressionante como as pessoas ainda lembram dele. Uma curiosidade das gravações é que nós, do elenco, costumávamos brincar e improvisar bastante, o que muitas vezes resultava em cenas bem divertidas e espontâneas. Esse clima leve ajudava a criar uma química natural entre os personagens.”