Após a divulgação dos dados preliminares da investigação sobre a morte de Antônio Lopes Siqueira, de 73 anos, que ganhou sozinho a Mega-Sena em Cuiabá (MT), apontarem que o idoso sofreu uma parada cardiorrespiratória na cadeira de seu dentista, no dia 4 de dezembro, uma dúvida se levantou sobre a segurança dos procedimentos odontológicos. De acordo com o primeiro laudo, essa foi uma das causas da morte de Lopes, mas ainda não houve confirmação da causa da morte. O que se sabe é que ele era hipertenso e tinha diabetes.
Dr. Gabriel Campolongo, dentista, mestre e PhD em cirurgia bucomaxilofacial, explica que esses problemas de saúde pré-existentes não impedem procedimentos odontológicos. “Quando controlado, o paciente diabético e hipertenso pode ser submetido a tratamento odontológico sem nenhum problema. Porém, quando existe uma alteração nos níveis de pressão sanguínea ou na glicemia, o cirurgião-dentista deve avaliar a necessidade do tratamento e, se possível, adiar”.
O profissional ressalta que a parada cardiorrespiratória tem diversas causa etiológicas, mas quando ocorre secundária a procedimentos odontológicos, normalmente está ligada à quantidade de anestésicos locais utilizados. “Para cada sal anestésico existe um limite da quantidade a ser injetado, dependendo do peso do paciente. Porém, isso não é comum, já que a quantidade utilizada normalmente não chega próximo da dose tóxica”.
Campolongo afirma acreditar que a morte do mato-grossense não tenha a ver com negligência do especialista. “Todo procedimento pode ter complicações, cabe ao cirurgião-dentista estar apto a resolvê-las ou dar um suporte ao paciente até que chegue algum serviço mais especializado, como o SAMU. As complicações por anestésicos locais são raras de acontecer. Imagina quantos procedimentos odontológicos são realizados com anestesia local? E, dificilmente, temos alguma complicação. No caso, pelo que me parece, foi uma fatalidade mesmo”, pontua.
Ele salienta algumas complicações que podem ocorrer durante um tratamento odontológico que são passíveis de controle, dentre elas a reação alérgica, o desmaio ou até taquicardia. “Por isso, os consultórios e os profissionais que atendem devem estar preparados para acolher estas possíveis intercorrências. Ainda, é preciso treinar sempre a equipe de atendentes para que questionem o paciente se há algum desconforto, se o mesmo está sentindo algo estranho ou fora do comum. Insistir em perguntar pode minimizar riscos”.
Normalmente, as clínicas fazem uma anamnese detalhada com o paciente a fim de evitar incidentes e claro, é preciso checar as condições gerais da pessoa porque o próprio pavor de dentista pode agravar qualquer tipo de reação ou sinal que o corpo possa dar. “Infelizmente, no caso do idoso, parece mesmo ter sido uma fatalidade e não há motivo para que as pessoas fiquem com receio de frequentar o dentista”, finaliza.