A Lei da Destruição e as catástrofes: como o espiritismo enxerga tragédias como a queda do avião em Vinhedo?
O Espiritismo surgiu como Doutrina sistematizada a partir da edição do Livro dos Espíritos, no ano de 1857, quando Allan Kardec, utilizando-se da colaboração de vários médiuns, conferindo dados e checando fatos, elaborou uma série de perguntas aos espíritos desencarnados que tinham a missão de orientar os trabalhos que dariam origem à Doutrina Espírita.
As perguntas e respostas abrangem vários temas, mas vamos agora nos concentrar nas que podem esclarecer o ponto de vista do espiritismo acerca de tragédias que acometem a humanidade em geral, especialmente no momento em que o Brasil ainda sofre as consequências do traumático acidente envolvendo um avião da empresa voepass, que caiu no município de Vinhedo no último dia 09 de agosto de 2024.
As questões as de número 737 e 738.
– Questão 737: “Com que objetivo os flagelos destruidores atingem a humanidade?”
Resposta: “Para fazê-la progredir mais depressa”
Ou seja: há uma tendência natural do ser humano à acomodação, ao sossego, à “sombra e água fresca”, especialmente se a pessoa estiver com suas necessidades atendidas, mas a Lei de Deus é voltada inexoravelmente para o progresso e esse não virá como resultado da acomodação, de modo que tais “catástrofes” são, não raras vezes, “cutucadas” de Deus para fazer com que nos movimentemos para o bem.
– Questão 738: “A Providência não poderia empregar para o aperfeiçoamento da humanidade outros meios que não os flagelos destruidores?”
Resposta: “Sim, pode, e os emprega todos os dias, uma vez que deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. É o homem que não tira proveito disso.”
Ou seja: os flagelos são as sacudidas que a vida nos dá para sairmos da indiferença e partirmos para a luta contra nossas más inclinações, nossas más tendências, comportamentos equivocados passivos ou ativos, enfim, tudo o que nos prende ao egoísmo e ao culto à matéria, nos afastando de Deus. Se agíssemos mais proativamente, muitos desses estímulos não seriam necessários.
Deve-se acrescentar a esse entendimento a visão da sobrevivência do espírito e a infinitude das encarnações que ainda estão por vir, de modo que a morte do corpo, sob esse ponto de vista é menos que uma página em um livro de uma enciclopédia de incontáveis volumes, ou seja: qualquer coisa que ocorra de errado em uma encarnação, mesmo que a sua interrupção, não pode ser, sob o prisma espiritual, encarado como algo catastrófico.
Não é um castigo, muito menos o fim. É uma página virada, uma experiência vivida, geralmente, como consequência de causas passadas, que gera desconforto, sem dúvida, mas caminha mais para solução do que para problema.
Mortes ocorrem todos os dias sem que paremos para grandes questionamentos, mas diante de um fato como a queda do avião em Vinhedo, onde 63 pessoas são vitimadas em um só momento, o impacto é maior e as pessoas acabam buscando explicações não raras vezes especulativas, esquecendo que apenas os corpos morreram, os espíritos seguem vivos e prosseguem suas jornadas, cada qual mediante o grau de preparo, desapego e patrimônio moral.
Nada termina com a morte do corpo, a não ser ele mesmo! A morte não é um castigo, é um fato! O problema é que desejamos que ela ocorra apenas na mais avançada idade e quando não pudermos mais usufruir as benesses da matéria.
Quantas pessoas não afirmam que só querem viver enquanto forem sadias e independentes? Essa é a nossa atrasada mentalidade, mas a realidade espiritual vai muito além.
Permanecemos encarnados enquanto for necessário para o nosso crescimento e, por outro lado, deixamos o plano físico por mérito, libertando-nos das limitações do corpo, ou para que a experiência da interrupção dos laços sirva de aprendizado ou restauração de equívocos transatos, porém tudo em caráter transitório, pois permanente mesmo só a Lei do progresso, para que se cumpra o que preconizou o Cristo: “nenhuma ovelha se perderá do meu rebanho.”
Lamentamos as mortes, mas devemos transformá-las um simples até logo, até o dia em que nos reencontraremos, para juntos, agradecermos as experiências difíceis que nos fizeram chegar mais perto de Deus, como uma maratonista, que passa por 42 quilômetros de esforços e dificuldades, mas uma vez completado o percurso, olha para trás e agradece cada bolha, cada calo, cada cãibra que, antes de castigo, o estimularam a chegar lá.
Edson Sardano, escritor e orador espírita.