É enredo pra dar nó na emoção de qualquer um: menina de 16 anos passa a se prostituir em segredo para a família não perder o próprio teto. Apaixonada por um cliente, sofre horrores quando ele, alegando a diferença de idade, se recusa a assumi-la pra valer. Eis que o canalha se arrepende e, para ficar próximo à amada, se casa com a mãe dela! Sem sequer imaginar quão conturbada é a vida sexual da própria filha, a criatura sobe ao altar feliz da vida. Angustiada diante da possibilidade de estragar a felicidade da mãe – e de precisar confessar o que aprontou… –, a garota se cala e tenta resistir ao padrasto. Em vão, pois acabam virando amantes. O maluco é que, apesar de tudo, mãe (Drica Moraes, no papel de Carolina) e filha (Camila Queiroz, na pele de Angel) se amam muito.
Opa, mas o que saiu errado, então? Para a terapeuta familiar Celina Sevieri, o problema foi falta de confiança e respeito – elementos básicos que, à parte os exageros da ficção, causam graves danos nas relações de várias mães e filhos da vida real. A seguir, os trechos mais importantes do papo que AnaMaria teve com Celina sobre a forma mais produtiva de lidar com questões como sexo, trabalho e estudos dos filhos adolescentes, evitando desgastes, afastamentos e até rupturas. Para ler, assimilar e aplicar:
1) Como lidar com a iniciação sexual da filha?
Situação: Carolina não tem a menor ideia de quando Angel perdeu a virgindade. Tanto segredo leva Angel a viver mentindo!
Dica da especialista: para falar sobre sexo, mãe e filha precisam ser íntimas pra valer. Isso só acontece quando a convivência entre elas é tão próxima que a menina faz até questão de compartilhar essa passagem tão importante. É delicado conquistar essa confiança na filha… Pois, ao mesmo tempo em que deve acolher e se colocar como amiga, a mãe tem a responsabilidade de sinalizar os limites, perguntando sobre o parceiro e o uso de preservativos, por exemplo. Um bom jeito de começar a cativar isso na sua casa é usar o exemplo da novela para debater o que é certo e errado na situação. Mas atenção: sem criticar demais, sempre deixando a porta aberta para conversas que, aos poucos, abordem a vida dela.
2) Como falar sobre trabalho e supervisionar o emprego?
Situação: Angel decidiu trabalhar para ajudar a família a superar uma grave crise financeira. A ideia inicial era ser modelo, mas a grana rápida da prostituição falou mais alto.
Dica da especialista: o caso de Angel é extremo. Ela foi acuada a se prostituir dentro da agência onde trabalhava. Mas, na vida real, os jovens também vivem recebendo propostas ilícitas. Um dos jeitos de ficar esperta quanto a isso é observar os ganhos do filho. Ele mudou o jeito de lidar com o dinheiro e está levando uma vida mais cara e glamourosa? Hora de puxar um papo sobre a importância de ele economizar para investir em projetos futuros. Se isso causar irritação, vale passar a acompanhar a rotina de trabalho, o tipo de reunião que faz e os horários. Sempre reforçando e exemplificando valores de honestidade, que atenuam a
chance de entrar em roubadas.
3) Como deve ser o papo sobre o uso de drogas?
Situação: Angel saía com um garoto (Gui, vivido por Gabriel Leone) que curtia drogas. Chegou até a ser dopada por amigos numa festa. A mãe? Nem sonha com isso!
Dica da especialista: cada família lida com o tema drogas de um jeito diferente e não existe certo e errado. Se a atitude do jovem mudou e você desconfia que ele esteja, por exemplo, fumando maconha, jamais o acuse diretamente. Pergunte numa boa, em tom amigável. Caso descubra que ele usa de vez em quando, fale mais sério: com drogas, não existe de vez em quando. É perigoso e ponto. Para ilustrar isso, mostre na internet fotos do antes e do depois de usuários e selecione videos com depoimentos sobre o quão degradante é a cocaína, a heroína, o LSD e por aí vai. O que não falta, na vida real, é gente como a personagem Larissa (Grazi Massafera), que perdeu tudo e foi parar na cracolândia. Quer um argumento para ao menos “adiar” a curiosidade? Até os 20 anos nosso cérebro está em formação e provar drogas queima preciosos neurônios.
4) Como se posicionar a respeito dos relacionamentos da filha?
Situação: Carolina acha Gui tão legal que releva o fato de ele e sua filha serem jovens demais para casar, apoiando sem restrições os planos da dupla de subir ao altar.
Dica da especialista: para convencer um jovem a reavaliar a decisão de casar cedo, nada mais eficiente do que fazê-lo conversar com pessoas que disseram “sim” antes da hora e se arrependeram. Também é muito eficaz deixar claro que solidificar uma carreira e conquistar estabilidade financeira antes de juntar as escovas é uma condição imposta pela vida e não por você. Mesmo que o jovem já ganhe dinheiro (caso de Angel), vale mostrar quão mais prazerosa é a construção de uma intimidade sem o peso das responsabilidades da vida de casados. O que é melhor: dormir junto todos os dias, preocupados com o aluguel, ou só aos finais de semana, apenas com a “missão” de curtir um ao outro?
5) Como fazer cobranças em relação aos estudos?
Situação: Angel frequenta o ensino médio, mas não planeja ir à faculdade. Quando a mãe pergunta sobre o assunto, ela diz que vai pensar nisso depois e Carolina não a questiona mais.
Dica da especialista: quando os pais dão tudo, o adolescente tende a achar desnecessário fazer faculdade. Afinal, para que se esforçar em conquistas se tudo vem de mão beijada? Aí, não tem jeito, o negócio é botar o coração de manteiga de lado e diminuir os privilégios da criatura. Quanto mais preguiçoso e acomodado, menos facilidades você deve criar. Conseguiu fazer com que ele entre na faculdade? Acompanhe de perto, mas de forma mais empolgada do que cobradora. Lembre-se: na faculdade há oportunidades de sobra de se envolver com coisas erradas. É preciso muita conversa e honestidade para manter os filhos afastados disso tudo.
A mãe deve ser amiga, mas sinalizando os limites. Acolher mais e julgar menos faz o adolescente se sentir à vontade para conversar sobre as próprias experiências Celina Sevieri, terapeuta