Sim, Vita, Patrícia e Vera choraram ao saber que tinham um tumor malígno no seio… Mas nunca duvidaram que iriam se curar. Apesar do choque, enfrentaram o tratamento com garra e fé. Venceram tão bravamente a doença que foram parar no Calendário 2016 da Appo (Associação Petropolitana dos Pacientes Oncológicos). O trabalho reúne 12 mulheres, cujos relatos de superação enchem nossos peitos de esperança. Que eles encorajem as 57 mil brasileiras que, estima-se, serão diagnosticadas neste ano e que as inspirem a ser uma das tantas pacientes que driblarão a doença. A seguir, em celebração ao Outubro Rosa, AnaMaria concede a palavra a Vita, Patrícia e Vera.
Vita Bruno, dona de casa, 75 anos
“Quando a gente recebe a notícia, parece que o mundo caiu. Há 25 anos, não tinha nada disso de mamografia uma vez por ano. Senti um caroço e mostrei para a minha médica. Ela não deu bola. Procurei outro profissonal, fiz a mamografia e a biópsia, e descobri o câncer. Meu marido me acompanhou na consulta, mas não consegui olhar para ele. Quando cheguei em casa, me tranquei no banheiro e chorei. Tenho um casal de filhos que, na época, era adolescente. Pensava que ia morrer e deixá-los. Fiquei muito mal, mas enfrentei. Fiz a mastectomia total e as sessões de quimioterapia. Tive enjoo, o cabelo caiu e engordei. Foi complicado. E o pior é que eu não tinha como comprar os medicamentos. Foi aí que me reuni com outras pessoas na mesma situação e fundamos a Appo. Fazíamos bazares, arrecadávamos grana. Ficamos dias na porta da prefeitura para conseguir o remédio de graça. Foi um sufoco, mas deu certo! Hoje, sou da diretoria. Tento ajudar as pessoas que chegam lá. Falo para enfrentarem com muita fé e força. É uma luta difícil, mas não dá para se entregar. Eu consegui!”
Patrícia Portugal, professora, 43 anos
“Durante um autoexame, senti um nódulo na mama esquerda. Rompi a barreira do medo e fui ao médico. Quando soube do diagnóstico, perdi o chão. Dizem que meu caso é raro, já que ninguém na minha família teve a doença e não foi por causa dos hormônios. Eu tinha apenas 29 anos e uma vida saudável! Meus filhos, na época, tinham 6 e 9 anos. Após refletir muito, pensei: tenho que lutar! O médico disse que eu precisaria retirar parte da mama. Preocupada, olhei para o meu marido, que falou: ‘Se precisar, tira tudo, só quero que você fique bem’. Depois disso, cheguei à conclusão de que não sou uma mama. Neste momento, eu tinha duas opções: me entregar ou lutar. E foi uma luta longa, de 14 anos. Tirei o nódulo, fiz quimioterapia, radioterapia, perdi o cabelo. Raspei tudo quando começou a cair. Logo depois, fui com amigos comprar uma peruca caríssima. Quando a coloquei, fiquei insegura, achando que alguém pudesse puxar ou cair. Até que ganhei um lenço. Ah, aí me realizei! Eu passava batom, me maquiava, fazia amarrações e segui em frente. Um tempo depois, descobri outro nódulo e tive que fazer a mastectomia [retirada da mama] completa. Depois, tive mais quatro recaídas até a cura total. Os anos se passaram e, agora, o que importa para mim é estar
viva. Não é bom ficar sem a mama, mas me olho no espelho e isso não me incomoda. Por enquanto, não quero fazer a reconstrução. Talvez mude de ideia, mas agora quero evitar passar por uma grande cirurgia. Me envolvi em trabalhos voluntários, estudei muito e hoje dou palestras sobre o assunto. Uma das coisas que me fizeram sair dessa foi ter descoberto logo e ter vencido o medo. Muitas mulheres procuram o médico num estado avançado e acabam morrendo só por não querer falar disso. Eu nunca
fiquei debilitada, não parei minha vida por causa do câncer.”
Vera Lúcia, dona de casa, 62 anos
“Tudo começou há sete anos. Meu pai, que teve Alzheimer e precisou de cuidados, tinha morrido há um ano e meio e eu estava retomando a minha vida. Comecei a sentir uma coceirinha no seio. Sempre fiz mamografia e achei que não fosse nada, até sentir um caroço. Aí não perdi tempo: fui logo à ginecologista, que me pediu alguns exames e depois me encaminhou a um oncologista. Engraçado que só deu medo quando recebi uma ligação do consultório pedindo para eu ir lá imediatamente. Nem sei explicar o que senti na hora. Fiquei sem chão. O médico falou que eu podia gritar, chorar, fazer o que quisesse. Mas fiquei quieta. Passei pela cirurgia, fiz seis sessões de quimioterapia e, depois, 35 de radioterapia. Foi um período difícil, o tratamento é bem pesado. No dia da aplicação, chegava em casa exausta e caía no sofá. Ficava muito enjoada e a única coisa que me ajudava era sorvete de limão, acredita? O cabelo caiu todinho em 15 dias, nem tive que raspar. Usei peruca e lenço. Fiquei chateada, é claro, mas o que me interessava era ficar boa. Quando descobri o câncer, vi que Deus me deu uma cruz muito grande para carregar. Mas Ele também trouxe pessoas que me ajudaram a levá-la. Sou muito grata por ter conhecido tanta gente maravilhosa, que ficou ao meu lado o tempo todo e dividiu o peso comigo. Eu digo que não venci o câncer sozinha. Falando assim, parece que foi fácil, né? Mas foi um período de muita luta. Precisei retirar uma parte do seio, mas nem ligo. Ninguém repara se eu não conto. Tomei os remédios pós-químio por cinco anos e fiquei livre de tudo. Digo para as pessoas que estão passando por isso que o câncer não é uma batalha fácil, mas dá para vencer. Eu sou a prova disso! Estou viva e até posei para um calendário!”
Domine os medos e ganhe tempo precioso
As chances de cura são enormes quando o câncer é detectado em estágio inicial. Descubra como se proteger.
A doença é difícil, mas dá para superá-la, você viu! E descobri-la no início é a chave para o sucesso. Para isso, não deixe de fazer a mamografia todos os anos. Veja, a seguir, outras informações importantes para você entender.
Fatores de risco
Hereditariedade: Nestes casos, há uma mutação genética que passa de geração para geração. Mas só de 5% a 10% dos casos são hereditários. Ou seja, a minoria das mulheres que vão desenvolver câncer de mama nasce com predisposição à doença. Isso quer dizer que os fatores externos são mais importantes.
Envelhecimento: Ao longo dos anos, as chances de ter câncer de mama aumentam bastante. Cerca de 60% dos casos são diagnosticados em mulheres acima de 55 anos. A recomendação geral é que a mamografia comece a ser feita anualmente a partir dos 40 anos. Mas quem tem histórico na família, deve começar já aos 30 anos.
Álcool, sobrepeso e sedentarismo: Hábitos saudáveis também contam para a prevenção do câncer de mama. Na grande maioria dos casos, os tumores são relacionados a fatores hormonais e alimentares, exposição à radiação e hábitos ruins, como o abuso de álcool. Nesses casos, o indivíduo nasce com os genes normais e eles se tornam defeituosos ao longo da vida. Cerca de 30% dos tumores poderiam ser evitados com alimentação saudável e prática de atividade física regular.
A importância da prevenção
Quanto menor o tumor, melhores são as perspectivas de cura. Nódulos com menos de 1 cm têm de 90% a 95% de chance de desaparecerem.
O autoexame é bem importante para o autoconhecimento, mas não substitui o acompanhamento com ginecologista e a mamografia. Se notar algo de diferente na mama, corra para o médico! Conte tudo e faça os exames assim que puder.
E a Angelina?
Ela retirou os seios e os ovários, pois nasceu com uma mutação genética que eleva a 87% o risco de desenvolver câncer de mama
e a 50% de ter câncer de ovário – sua mãe lutou por uma década contra a doença e morreu aos 56 anos. Do ponto de vista médico, em casos extremos como esse, é aconselhável fazer a remoção preventiva. Entretanto, a decisão só ocorre depois de descartados todos os possíveis tratamentos.
FONTES: Inca (Instituto nacional de Câncer) ; WESLEY PEREIRA ANDRADE, MASTOLOGISTA, ONCOLOGISTA E COLUNISTA DO SITE MINHA VIDA ; SOLANGE GOMES, VOLUNTÁRIA DA ABRAPAC (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE APOIO AOS PACIENTES DE CÂNCER)