Quando o assunto é filho, as dúvidas são uma constante. Eles crescem e as questões só vão mudando. Normal, por isso a gente leva os pequenos com tanta frequência ao pediatra. Pior seria achar que sabemos de tudo. “Muitos pais chegam ao consultório com certezas erradas”, alerta o pediatra Sylvio Renan, autor do livro Pediatria Hoje (MG Editores, R$ 49,90), que traz orientações pertinentes sobre o misterioso mundo da criançada.
Bebês
1 Por que meu filho tem tanto refluxo?
Isso acontece quando parte do suco gástrico vai parar no esôfago. É bem comum em bebês porque eles tomam uma quantidade grande de leite ao longo do dia e passam muito tempo deitados. Apesar de gerar preocupação, conforme eles se desenvolvem, o refluxo tende a desaparecer. Tanto é que em apenas 2% dos casos é preciso investigar. Pra evitar o problema, ofereça leite pouco a pouco, com mais frequência. Experimente também deixá-lo em posição vertical por mais tempo, além de elevar um pouco a cabeceira do berço.
2 O que fazer para ele dormir a noite toda?
Calma. A maioria dos bebês não tem um sono tranquilo nos primeiros meses. Entre outros fatores, isso ocorre porque durante o dia – e até o pequeno completar 3 meses – a mãe deve acordá-lo a cada três horas pra mamar. À noite, se ele estiver ganhando peso, deixe-o descansar – isso ajuda a disciplinar o sono. Caso seja preciso trocar a fralda de madrugada, use uma luz bem fraca e não fale alto. Outras questões também podem alterar o sono do recém-nascido, como fome, sede, barulho, iluminação inadequada, brincadeiras excitantes, insegurança dos pais e doenças. Então, cabe à família criar as condições necessárias para que o bebê tenha uma noite tranquila. Dar banho antes de colocá-lo pra dormir, cantar musiquinhas, deixar o quarto na penumbra e certificar-se de que ele está sequinho são medidas eficazes. Se mesmo com tudo isso ele continuar com o sono perturbado, procure o pediatra.
3 Qual é a melhor hora de tirar a fralda?
O treinamento pode começar aos 18 meses. Cuidado com as expectativas, pois o processo pode ser rápido e durar poucas semanas, ou levar um tempão, meses até – tudo depende de cada criança. Enquanto seu filho não adquirir o controle necessário para regular a passagem das fezes, de nada adianta forçar, pois a criança não responderá aos estímulos. Insistir a todo custo pode provocar insegurança e ansiedade nos pequenos.
Saúde
4 Todo mês ele fica doente. Como proteger meu filho?
Basta o tempo esfriar para a criançada ficar doente. Acontece que, com a queda da temperatura, a umidade do ar diminui e, consequentemente, a poluição aumenta. Por isso, os pequenos que ainda estão desenvolvendo a imunidade sofrem mais. E o pior é que as alterações respiratórias provocadas pelo clima facilitam a proliferação dos vírus. Mas alguns cuidados ajudam a protegê-los. Veja:
■ Lavar as mãos toda vez que mexer na comida, for ao banheiro ou chegar em casa. Essa dica vale tanto para os pais quanto para as crianças!
■ Colocar uma bacia cheia de água, uma toalha molhada ou um umidificador de ar nos locais da casa onde a família passa
mais tempo, como quarto e sala.
■ Lavar as narinas das crianças com soro fisiológico três vezes ao dia.
■ Deixar as janelas entreabertas para entrada e saída do ar. A casa deve estar sempre arejada!
■ Manter os ambientes limpos, sem poeira ou mofo, já que eles aumentam a probabilidade de crises alérgicas nas crianças.
■ Passear ao ar livre, em locais como parques e praças. Se der, evite aglomerações, do gênero shoppings e até festinhas infantis.
■ Oferecer bastante líquido, preferencialmente água, e alimentos naturais, como frutas e verduras.
■ Manter as crianças bem agasalhadas e evitar mudanças bruscas de temperatura.
5 Tenho medo que ele seja gordinho. Como evitar?
■ Mostre os alimentos para a criança e explique como eles contribuem para o seu desenvolvimento. Mas atenção: é importante usar uma linguagem que ela compreenda, como “espinafre te deixa forte”, “cenoura ajuda a enxergar melhor”.
■ Faça com que o pequeno primeiro experimente a comida. Só depois revele os ingredientes utilizados. Dessa forma, ele perceberá que os alimentos saudáveis também são muito saborosos.
■ Se puder, dê preferência a produtos orgânicos e integrais.
■ No supermercado, peça ajuda dele para escolher frutas, legumes e verduras. Depois, convide-o para participar do preparo do prato.
■ Libere os sanduíches das redes de fast-food somente em um dia do mês (e apenas se a criança demonstrar interesse por eles).
■ Se preciso, converse com a coordenação da escola e proponha modificações no lanche oferecido e nos produtos vendidos na cantina.
■ Algumas crianças fazem birra para comer. O segredo é não insistir e sempre oferecer. Lembre‑se: se forçar a criança a ingerir algo, o mais provável é que ela se recuse a comer o alimento daí em diante.
■ Nada de lanches fora de hora nem de comer no sofá, jogando videogame ou com a TV ligada. E sempre que possível, faça refeições em família: trata-se de um momento importante de troca.
■ De nada adianta todas as dicas acima se a família se alimenta mal. Lembre-se, nós somos o exemplo!
6 Ele se recusa a tomar remédio. E agora?
O momento de administrar medicamentos para os pequenos pode ser um tormento: birra, choro e muita dor de cabeça para os pais. Com jeitinho é possível contornar a situação. Confira:
■ Nunca associe o remédio a algo que a criança gosta de consumir, como balas e docinhos.
■ Não faça chantagens caso ele se negue a tomar. O ideal é sempre explicar o motivo pelo qual ele precisa ser medicado.
■ É sempre mais difícil explicar a importância do remédio para menores de 3 anos. Uma saída é criar uma brincadeira, contar uma história, entrar no mundo da criança, mas sem mentir para ela, ok?
■ Jamais brigue ou a coloque de castigo. Se o problema for o gosto ruim, dilua o remédio em um pouco de suco ou leite – desde que não haja contraindicação na bula.
■ É importante apresentar o remédio com naturalidade. Muitas vezes, a criança rejeita o medicamento justamente porque sente a ansiedade dos pais. Relaxe!
7 Ele não usa fralda, mas às vezes escapa xixi. É normal?
Não se preocupe: assim que a criança tira a fralda, é comum que o xixi continue escapando. Leva um tempo até que ela se acostume com a necessidade de pedir, de ir até o banheiro… Algumas sentem muita dificuldade de interromper uma brincadeira, por exemplo, para ir ao banheiro. Mas se faz tempo que ele(a) já usa cuequinha ou calcinha e continua com o problema, é bom investigar. Conhecido como incontinência urinária, o xixi fora de hora pode ser causado por uma alteração neurológica ou anatômica, como o estreitamento do canal por onde a urina sai. Uma falha de comunicação entre o cérebro e a bexiga, assim como infecções e desequilíbrios hormonais, também podem explicar os escapes frequentes. De qualquer forma, converse com o pediatra
para entender a causa do problema e evitar danos nos rins.
8 Que tipo de mochila é a mais indicada?
A coluna é o alicerce de todo nosso corpo e, durante a fase de crescimento, ela precisa se desenvolver bem. Para evitar problemas, uma dica: o peso da mochila não pode ultrapassar 5% do peso da criança – se ele tem 20 kg, a mala não pode ter mais do que 1 kg! As escolas devem instruir os alunos a carregar apenas o necessário para as aulas do dia. Se a quantidade de material for superior à permitida, o colégio deve oferecer armários. O modelo mais indicado é a mochila com alças, que devem ser do mesmo tamanho pra não sobrecarregar um dos ombros. As com três alças – duas para os ombros e uma para a cintura – são ainda melhores, pois garantem que o peso seja distribuído para o osso do quadril. E a mala de rodinhas? Apesar de ser a favorita da meninada, não é indicada, pois a altura da alça não acompanha corretamente o tamanho da criança, podendo gerar dores e problemas na coluna.
9 Como incentivar a solidariedade nele?
Natal, aniversário e Dia das Crianças são datas muito significativas para os pequenos, pois é quando eles costumam receber presentes dos pais, dos tios, dos amigos… Aproveite essas épocas para ensiná-lo a importância do altruísmo: quando ele ganhar algo novo, peça que separe roupas ou brinquedos que não utiliza para doar às crianças carentes. Não é fácil mudar atitudes de uma hora para outra, mas pensar em presentes sustentáveis ou fazer doações contribui para a formação ética, mental e social de nossas crianças. Que tal tentar?
Lembre-se de que cada criança tem um ritmo e é preciso respeitar isso. Nem irmãos gêmeos se desenvolvem da
mesma forma!