Que atire a primeira pedra a mãe que nunca pensou em bisbilhotar as coisas dos filhos. Seja dando uma esticadinha de olho nas conversas no Facebook, seja escutando de leve o papo no celular com o amigo que parece moderninho demais… Porque os tempos evoluíram bastante, mas a forma como os pais se preocupam, não. E tudo bem se sentir assim, desde que os responsáveis saibam até onde podem chegar para garantir segurança e proteção. “Os pais querem o melhor para os filhos e, por isso, exercem o controle
com relação a horários, passeios, viagens, baladas, amizades… Ok, mas vale lembrar que isso não significa ter domínio sobre as ações e os pensamentos deles”, diz Maíra Laranjeira, especialista em programação neurolinguística (RJ). O excesso de cuidado jamais deve invadir a privacidade das crianças. “É claro que os pais precisam saber dos passos dos filhos, mas isso não deve ser confundido com desrespeito à intimidade”. Veja mais:
Questão de conquista
Todos nós temos direito à privacidade, mas também precisamos agir com responsabilidade. “Ela deve ser conquistada. A criança ou o adolescente têm que corresponder, ou seja, a cada caminho que ele percorre com responsabilidade, mais ganha o direito a ter
liberdade. Por isso, os pais devem focar em ensiná-los a analisar o que estão fazendo. Simplesmente dizer ‘sim’ ou ‘não’ dificulta a conquista de compromisso”, ensina Marcelo Felippe, especialista em coaching (RJ) e autor do livro Transformando Pessoas
(Semente Editorial, R$ 45). Além disso, pais superprotetores dificilmente criam filhos para o mundo. “Quando a criança excessivamente protegida se torna adulta acaba enfrentando várias dificuldades por não ter aprendido a se virar, a ser responsável, a se esforçar pelas coisas que quer”.
Cada caso é um caso
Não é possível estabelecer uma data limite para se começar a respeitar a privacidade dos filhos. No entanto, ela tem que acontecer de acordo com o amadurecimento deles. “Caso os pais não respeitem o espaço dos filhos, a tendência é eles ficarem dependentes
em vários aspectos e desenvolverem um sentimento de revolta, especialmente na adolescência, quando passam a adquirir autonomia e percebem os pais extremamente invasivos”, alerta Sandra Langella, psicóloga clínica (SP). Lembre-se de que a
adolescência é uma fase de experimentação e os jovens precisam vivenciar essa etapa. “Observe o comportamento dele, isso
possibilitará identificar problemas e saber a melhor hora para intervir. Com confiança, o próprio filho tende a procurar os pais para conversar”, garante Felippe.
Sem ultrapassar limites
Ficar atenta às atitudes das crianças e dos adolescentes é diferente de ser invasiva ou superprotetora. O ideal é orientar, instruir e dialogar para que eles possam, sozinhos, avaliar as situações e as adversidades da vida. Mas se no dia a dia surgirem conflitos
que não podem ser negligenciados, devemos tomar providências. Veja a melhor forma de agir:
1 Na internet
Para as crianças de até 12 anos, o ideal é que sejam estabelecidas regras, como o horário de acesso, o tempo de permanência no computador e os sites permitidos. Faça parte das mesmas redes sociais que o seu filho, pois é uma forma de monitorar os interesses e amigos dele. Mas evite opinar muito sobre as publicações!
2 Com amigos
Conhecer as amizades do seu filho é importante para saber com qual grupo ele se familiariza. “Incentive a criança ou o adolescente a convidar os amigos para brincar, assistir a filmes, jogar ou lanchar na sua casa. Assim, você terá a oportunidade de prestar atenção no comportamento deles e identificar melhor a personalidade do seu filho. Caso julgue que algum dos amigos apresenta comportamento inadequado, tente conversar sobre isso, sem proibir de cara o contato”, avisa Sandra.
3 No telefone
Se você tentar ouvir a conversa ou mexer escondida no celular dele, quebrará a sintonia entre vocês. Crie uma relação de confiança e respeito mútuo para nunca apelar a esse tipo de comportamento. “Sempre que quiser saber com quem ele está conversando, seja clara e direta, mantendo um tom amigável”, alerta Lucas Rezende, psicólogo (RJ).
4 No e-mail
“Ler as mensagens do filho, mesmo que a página esteja ali escancarada, na sua frente, não é uma atitude legal. Não tem a ver com controle, mas com respeito”, diz Marcelo. “O desenvolvimento cognitivo do jovem depende também de um ambiente rico em exemplos de maturidade e autocontrole. Não funciona falar sobre boas maneiras e, na prática, dar o exemplo contrário. Na incoerência prevalece, sempre, o que os pais fazem, e não o que dizem”, conclui Rezende.