Quando ouvimos a palavra “botox”, assim como a grande maioria das pessoas, pensamos quase imediatamente em alguém com a pele lisinha e sem marcas de expressão. No entanto, acredite, essa é apenas uma das maravilhas que a toxina botulínica pode fazer pelo nosso corpo. “Antes de ser descoberta para fins estéticos, ela já era utilizada pela medicina para o tratamento de doenças”, explica Renan Barros Domingues, neurologista de São Paulo. Saiba como:
Como ela funciona
A toxina botulínica, conhecida popularmente como botox, é produzida por uma bactéria que, caso ingerida, pode causar um estrago enorme no corpo humano, desenvolvendo uma doença chamada botulismo. O problema pode causar paralisia ou até mesmo a morte. O tal microrganismo não tolera o oxigênio, portanto, cresce com mais facilidade nos locais em que o ar costuma ser escasso,
como nas latas dos alimentos em conserva – principalmente as que não são preservadas corretamente. Por isso é tão importante
prestar atenção nas condições de uma embalagem antes de consumir o conteúdo, verificando se ela não está amassada ou enferrujada. No entanto, a aplicação da substância em doses controladas, além de causar efeito rejuvenescedor à pele, ajuda a tratar algumas doenças. Ela funciona da seguinte maneira: para que possamos nos movimentar, um comando parte do cérebro e passa pelos nervos, que mandam a informação para os músculos a fim de que eles se contraiam. “A toxina bloqueia essa comunicação entre nervos e músculos”, detalha o neurologista. Graças a isso, eles ficam paralisados e sempre relaxados. Para algumas doenças, esse efeito traz um grande alívio, que faz toda a diferença! A seguir, veja quais são elas.
Estrabismo
A assimetria entre os olhos incomoda muita gente. Muitas vezes, ela acontece graças à contração involuntária de um dos músculos da região. “A aplicação da toxina permite que esse músculo relaxe e volte a se movimentar normalmente”, orienta Domingues. Assim, acontece a recuperação total ou parcial do alinhamento dos olhos.
Suor excessivo
Palmas das mãos, pés e axilas são os locais mais afetados pelo excesso de suor – um problema que pode causar constrangimento. Nessas situações, a aplicação do botox reduz a perda de líquidos. Como? Ela causará o bloqueio do estímulo para a produção
de suor junto às glândulas.
Enxaqueca
Quando uma pessoa é diagnosticada com a versão crônica da doença (aquela dor de cabeça que, no período de um mês, se arrasta por mais de 15 dias), um dos tratamentos possíveis é a aplicação do produto. Nesse caso, os efeitos não estão ligados aos músculos. “Acredita-se que a substância também possa interferir na comunicação dos nervos entre si, melhorando o incômodo”, explica
Domingues. A eficácia ainda não é totalmente comprovada, mas os resultados se mostram positivos para mais da metade dos pacientes.
Incontinência urinária
Se, após a realização de exames, o diagnóstico apontar para um mau funcionamento do músculo da bexiga, o tratamento com a substância pode ser cogitado. Com a aplicação, a tendência é que ele pare de contrair nos momentos inapropriados (deixando
de gerar vontade de ir ao banheiro sem que a bexiga esteja cheia) e volte a trabalhar normalmente.
Sequelas de AVC
Quem sobrevive a um acidente vascular cerebral pode desenvolver um problema chamado espasticidade. Ele prejudica os músculos do corpo, gerando resistência e dificultando os movimentos. “O uso do botox pode relaxá-los e, inclusive, melhorar os
resultados da fisioterapia, contribuindo para o bem-estar do paciente”, completa o médico.
Distonia
Certas pessoas sofrem com espasmos involuntários na região da face, como o piscar dos olhos. Com a toxina, os músculos relaxam e os movimentos param de acontecer.
Prazo de validade!
Depois de um tempo após a aplicação, o enrijecimento do músculo volta ao normal e são necessárias novas injeções para que os resultados apareçam novamente. O prazo de validade varia de três a dez meses.
Tratamento gratuito
Com exceção da enxaqueca e da sudorese, o tratamento para as demais doenças, desde que o paciente receba a devida indicação do
médico, pode ser realizado gratuitamente pelo SUS. “O mais difícil, muitas vezes, é encontrar um profissional que realize esse tipo de procedimento”, alerta o neurologista. O motivo: é necessário um treinamento específico para a aplicação da toxina e ainda são poucos os médicos que, na prática, dispõem desse conhecimento.