Começa nos primeiros anos de vida, quando o bebê insiste em levar a colher com papinha até a boca, mas a mãe tenta controlá-lo para não sujar a casa inteira. No fundo, a cada gesto de “teimosia” como esse, as crianças estão em busca não somente do aprendizado, mas também de sua própria autonomia. Já parou para pensar que tarefa difícil é essa de educar um filho? Por um lado, cabe aos pais protegê-los dos perigos. Por outro, é também função deles incentivá-los a explorar o mundo a fim de que se tornem adultos independentes no futuro. É por isso que, na prática, há quem se perca entre tantos dilemas e acabe criando uma falsa bolha de proteção ao redor das crianças, que impede seu crescimento saudável. Que tal refletir sobre sua postura para não cair nessa cilada?
Afinal, o que é superproteger?
“Pais superprotetores são aqueles que querem ‘viver a vida’ dos filhos, carregando seus problemas, impedindo-os de assumir
tarefas de acordo com suas faixas etárias”, esclarece Sandra Braga, orientadora educacional do Ensino Fundamental II do Colégio Franciscano Pio XII. Esse impedimento pode ser visto em diferentes momentos da rotina. Por exemplo: não permitir que a criança
carregue sua própria mochila no trajeto para a escola ou, ao invés de ensiná-la a fazer a amarração dos cadarços, preferir dar os laços. Dentro de casa essas questões também se manifestam. Impedir a criança de tomar banho sozinha (mesmo que ela já tenha maturidade suficiente para isso) ou não deixá-la dormir na casa dos avós é um exemplo disso. Com o passar dos anos, esses pais podem começar a interferir nos desentendimentos dela com os colegas e professores, tirando completamente sua autonomia.
“A culpa não é do meu filho”
Casos em que os pais duvidam das queixas dos professores ou dos amiguinhos ainda são comuns nas escolas. “Em casa, as crianças têm contato com pessoas mais velhas e, por isso, se comportam de um jeito. Já na escola, a convivência com colegas da mesma idade é mais intensa, e nela se apresentam outros conflitos, que são como uma amostra da sociedade”, explica. É nesse espaço que elas desenvolvem a capacidade de resolver os desentendimentos, pois deparam com opiniões diferentes das suas. Mas, se os pais interferem demais, os pequenos acabam se sentindo inseguros. Por mais que seja dolorido, é preciso admitir as falhas dos
seus filhos para que elas possam ser corrigidas.
Pelo bem da própria criança
Quando os pais apresentam esse tipo de postura, a conta costuma sair cara para as crianças. Elas podem se tornar egoístas e ter dificuldades de trabalhar em equipe, já que não estão acostumadas a ceder. “A capacidade de fazer amigos também é prejudicada, pois os próprios colegas percebem que os pais interferem o tempo todo, o que pode ser embaraçoso”, alerta Sandra. Por fim, fica
difícil lidar com os próprios fracassos (que são comuns em qualquer idade), uma vez que sempre tiveram a interferência da família na resolução de seus conflitos.
Adultos pra lá de inseguros
A longo prazo, o cenário piora. A dificuldade de trabalhar em grupo persiste – desta vez, no âmbito profissional. Há sempre a tentação de buscar um “atalho” para solucionar os problemas, mesmo que isso prejudique alguém. As relações se tornam complicadas e até a aprendizagem pode ser comprometida. Portanto, o melhor é corrigir enquanto há tempo!
“Será que estou sufocando ele?”
Quando o envolvimento é muito intenso, é difícil mesmo perceber se está agindo certo ou não. Então, reflita sobre suas atitudes e veja até que ponto sua interferência tem sido positiva na vida da criança. “Indicamos que os pais só intervenham após perceberem que os filhos não se sentem capazes de resolver os conflitos sozinhos”, indica. Afinal, o melhor mesmo é sempre deixá-los tentar por conta própria!
É difícil mesmo saber quando estamos exagerando. Por isso, antes de se precipitar, reflita se seu filho não consegue dar conta sozinho.