Ao contrário do que muitos pensam, os idosos podem (e devem) celebrar a união se esse for o desejo deles. E isso foi muito bem representado no capítulo desta segunda-feira, 2, de O Outro Lado do Paraíso, quando entraram ao ar as cenas do casamento de Mercedes (Fernanda Montenegro) e Josafá (Lima Duarte). Na trama, eles já tinham se relacionado no passado, mas só agora, na terceira idade, conseguiram a união. “Não há hora ou momento certo para amar”, acredita a psicóloga Naiara O. Mariotto, especialista em relacionamentos e equilíbrio emocional. Para ela, aquela ideia de “amor romântico” como existem nos contos de fadas e, muitas vezes, na juventude vem se transformando em “amor companheiro” ao longo da vida, ou seja: naquele em que os laços se baseiam no companheirismo, na amizade, no amadurecimento, respeito e carinho. E, quando menos se espera, ele aparece sem regras, mas também se rompe. “Nessa nova ideia de amor pode ocorrer um rompimento ou separação a qualquer momento do relacionamento, pois as pessoas se colocam em primeiro lugar”, conta.
Além disso, é possível que as pessoas que se permitem amar na terceira idade tenham de enfrentar conflitos que merecem cuidados para não abalar a relação, como, por exemplo, a interferência dos familiares. “Julgamentos e opiniões de filhos, noras, genros ou netos sobre a nova união podem ser mais frenquentes nessa fase da vida”, alerta Naiara, que não vê malefícios na união entre idosos além desses possíveis conflitos. Na verdade, ela só benefícios em qualquer etapa da vida. “O amor promove a alegria de viver, a autoestima, o rejuvenescimento, além de melhorar o funcionamento do organismo e o emocional. O amor faz o indivíduo se sentir menos solitário e, com isso, diminui a depressão”, diz.
A solidão, aliás, é um dos maiores medos entre a população idosa (principalmente homens), segundo especialistas. “Isso se deve às diversas mudanças ocorridas nessa fase, como as perdas ou até o afastamento de pessoas próximas e queridas como familiares, amigos e conhecidos”, afirma a psicóloga, que ainda atribui a solidão à dificuldade social e perda do corpo jovem, entre outros motivos. “E por tantas perdas e transformações em sua vida, seu medo da solidão passa a falar mais alto, fazendo com que o sentimento de solidão passe a ser percebido como o mais intenso de todos pelo idoso”. A recomendação, nesse caso, é primeiro reconhecer e aceitar o sentimento de solidão. E depois não ter receio de buscar ajuda de um profissional ou de participar de atividades que trazem pazer como caminhada no parque, jogos de baralho, hidroginástica e academia. “Até mesmo ter um bichinho de estimação para cuidar pode aliviar a solidão”, acredita Naiara.
E a vida sexual, como fica?
Há no imaginário popular a ideia de que os idosos fazem pouco ou nunca praticam sexo. No entanto, pesquisas mostram que isso é um grande mito. Sim, a frequência diminui, mas segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), a ampla maioria dos homens (87%) e pouco mais da metade das mulheres (51%) acima dos 61 anos têm uma vida sexual minimamente ativa. “Se o casal não possui disposição para transar, pode-se ajudar com o que a medicina atual dispõe. Mas vale sempre lembrar dos cuidados necessários. Pode-se fazer tudo, desde que com segurança”, orienta Paulo Camiz, geriatra e professor da Faculdade de Medicina da USP.
No caso do envelhecimento com qualidade, segundo ele, existe a possibilidade de manutenção de vida sexual ativa. Além disso, a ajuda de medicamentos para disfunção erétil também viabilizou essa realidade. “É importante salientar, porém, que o uso de remédios deve ser precedido por avaliação médica e que, pelo esforço (realizado por parte principalmente dos homens) pode resultar em eventos circulatórios, como o infarto do miocárdio”, alerta. A favor da prática está o benefício emocional que essa fonte de prazer traz. “Um idoso que desempenha a vida sexual na sua plenitude precisa estar biologicamente, psicologicamente e socialmente bem”, conclui.