Você já parou para pensar por que você se sente atraído por certos tipos de pessoas em seus relacionamentos amorosos? A resposta pode estar mais próxima do que você imagina: na dinâmica do relacionamento de seus pais.
Desde a infância, observamos e internalizamos o comportamento dos adultos ao nosso redor, especialmente nossos pais, e essas experiências moldam, muitas vezes de forma inconsciente, nossas expectativas e escolhas românticas. Por isso, AnaMaria conversou com o psicólogo Luiz Mafle, que explica como o ambiente familiar e as relações que testemunhamos em casa podem influenciar a maneira como buscamos e nos relacionamos com nossos parceiros.
Formação de expectativas
Os pais desempenham um papel fundamental na formação das expectativas e preferências românticas que uma pessoa desenvolve ao longo da vida. É nesse ambiente familiar que a criança começa a entender as interações amorosas, aprendendo não apenas sobre o afeto, mas também sobre conflitos, resolução de problemas e a maneira como cada um expressa e recebe carinho.
Cada família tem suas próprias dinâmicas, e o que uma criança observa em casa é absorvido e internalizado como um padrão de relacionamento. Por exemplo, uma criança que cresce em um lar onde a comunicação é aberta e o respeito mútuo é evidente pode desenvolver expectativas semelhantes em seus próprios relacionamentos futuros.
Em contraste, uma criança que presencia conflitos constantes ou falta de afeto pode inconscientemente buscar, ou evitar comportamentos que refletem essas experiências.
“Se os pais brigam constantemente ou se um exerce controle excessivo sobre o outro — como quando o pai sempre manda e a mãe obedece —, o filho tende a replicar esse padrão no futuro”, afirma Luiz.
O papel das figuras paterna e materna é crucial, pois suas interações servem como um modelo sobre como os parceiros devem se tratar. Como os pais lidam com desentendimentos, expressam carinho e mantêm a conexão emocional pode influenciar a percepção da criança sobre o que é aceitável ou desejável em um parceiro.
“Dois aspectos principais influenciam a escolha de um parceiro: a qualidade do relacionamento entre os pais e a personalidade individual. O filho observa o modelo de relacionamento que os pais estabelecem e, a partir disso, forma suas expectativas para o futuro”, acrescenta ele.
A influência dos conflitos
Quando uma criança está imersa em um contexto familiar repleto de conflitos, desentendimentos ou problemas, ela tende a internalizar esses padrões como naturais e esperados em qualquer relacionamento.
Se o lar da criança é marcado por discussões frequentes, falta de comunicação eficaz ou até mesmo comportamentos abusivos, a criança pode começar a ver esses comportamentos como parte normal da interação entre parceiros. Ela pode, sem perceber, reproduzir essas atitudes e padrões em suas próprias relações futuras.
Por exemplo, uma criança que testemunha conflitos constantes entre os pais pode acabar aceitando ou até mesmo buscando relacionamentos onde a discussão e o conflito são predominantes, simplesmente porque esse é o padrão que ela conhece e considera normal.
“Uma menina tende a se identificar com a mãe para entender o papel da mulher na sociedade e nos relacionamentos, enquanto um menino busca exemplos no pai para aprender o que significa ser homem”, explica o especialista.
A aprendizagem social é um processo crucial na formação da cognição humana, especialmente durante a infância. Este conceito refere-se ao modo como as crianças adquirem conhecimento e habilidades através da observação e imitação das interações e comportamentos dos adultos ao seu redor.
Até os 7 anos, o cérebro infantil está em um estado de desenvolvimento acelerado, tornando esse período particularmente sensível e impactante para a internalização de comportamentos e padrões.
Além de estratégias de resolução de problemas, como os pais expressam emoções e estabelecem limites também é observada e internalizada. As crianças aprendem sobre a expressão emocional saudável ao ver como os pais demonstram e lidam com sentimentos como alegria, raiva e tristeza.
Da mesma forma, elas observam como os pais estabelecem e respeitam limites, o que pode influenciar como elas mesmas estabelecem e respeitam limites em seus relacionamentos futuros.
Comunicação familiar
A comunicação familiar é um componente essencial na formação das expectativas românticas dos filhos, moldando profundamente a maneira como eles entenderão e valorizarão a comunicação em seus próprios relacionamentos futuros.
Em famílias onde o diálogo aberto e honesto é uma prática constante, os filhos são expostos a um modelo positivo de como a comunicação deve funcionar em um relacionamento.
Além das palavras: como a comunicação pode transformar o seu relacionamento?
Em ambientes familiares onde há espaço para a expressão emocional e os problemas são discutidos de maneira construtiva, os filhos aprendem desde cedo que a comunicação é a base para relacionamentos saudáveis e funcionais.
Essas crianças observam como os pais abordam e resolvem conflitos, como expressam suas emoções e como se apoiam mutuamente em momentos difíceis. Esse aprendizado é fundamental, pois não é apenas o conteúdo das conversas que importa, mas também a disposição para enfrentar desafios em conjunto e manter um diálogo aberto e respeitoso.
A maneira como a comunicação é manejada dentro da família tem um impacto duradouro nas expectativas românticas e nas habilidades de relacionamento dos filhos. Famílias que promovem o diálogo aberto e a resolução colaborativa de problemas criam um ambiente onde os filhos aprendem a valorizar a comunicação saudável e a enfrentar desafios em conjunto.
Esses aprendizados se refletem em suas escolhas e comportamentos em relacionamentos futuros, influenciando sua capacidade de construir e manter conexões profundas e satisfatórias. Reconhecer e fomentar a importância da comunicação familiar pode, portanto, desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de relacionamentos amorosos bem-sucedidos e duradouros.
“Um especialista, como um psicólogo, pode ajudar o indivíduo a identificar e compreender os padrões comportamentais internalizados desde a infância. Através do processo terapêutico, a pessoa é encorajada a refletir sobre suas experiências passadas e como elas influenciam suas relações atuais”, completa Luiz.
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