Eu não gosto de conselhos prontos, desses que todo mundo repete sem pensar na tremenda bobagem que está falando. A pessoa acabou de ser demitida ou descobriu que o melhor amigo – que nem era tão amigo assim – colocou sua foto bêbada na rede social e vem algum pagão dizer: “esquece isso, vira a página”. Perfeito. Como não pensei nisso antes?
Só um minuto que vou ali lavar o rosto, fazer uma lobotomia e já volto. Tem uma coisa que se ninguém reparou até agora, deveria reparar: a vida cobra aprendizagem. E cobra mesmo, como aquela professora de matemática particular, que sua mãe contratou a peso de ouro.
Enquanto não se aprende, a lição será repetida. Mudam os cenários, mudam os personagens, mas a matéria é igual. Sabe o amigo que te causa pena porque não para em emprego nenhum? Tão inteligente, tão capaz e afirma que existe uma teoria da conspiração contra ele.
Um dia você é o colega da mesa ao lado e descobre que truculência é seu sobrenome. E o fulano vai virando as páginas da Carteira de Trabalho, sem humildade para aceitar que a única teoria da conspiração é sua sabotagem. Em relacionamentos não é muito diferente. Lembro de uma amiga que me ligou desesperada porque o namorado tinha resolvido sair de casa “de repente”.
Ela repetia não entender o que tinha feito de errado. Respondi que talvez tivesse uma pista: “quem sabe não gostava muito quando sugeria, em reuniões sociais, que ele era ruim de cama? Ou ficasse um pouco constrangido ao ouvir que a casa era sua e mantê-lo ali era um favor?” Chorou e se descabelou por uma semana.
Em seguida, afirmou que tinha virado a página e estava de namorado novo. Logo moravam juntos. E logo estava falando mal do companheiro. E rapidamente tomou outro passa-fora…
Sim, ela tinha virado a página. Para trás. Seja em qual situação for, é sempre bom reler o capítulo. Revisitar alegrias e tristezas. Chorar todas as lágrimas, entender a culpa que nos cabe e dar aquele pulinho no fundo do poço, porque é dali que tiramos o impulso para emergir. E aí, sim, é hora de virar a página para escrever uma outra história, com mais chances de um final feliz.
WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida.
