Cérebro de grávida? Termo muitas vezes usado para explicar as mudanças mentais e comportamentais durante a gestação pode ter comprovação científica. Entenda os impactos da gravidez no corpo e na mente das mulheres!
Pesquisas recentes têm revelado informações fascinantes sobre como a gravidez pode transformar o cérebro das mulheres. Um estudo recém-publicado na revista Nature Neuroscience documentou as alterações cerebrais por meio de ressonâncias magnéticas durante a gestação.
Estudos anteriores já haviam mostrado que durante a gravidez certas redes cerebrais, especialmente aquelas envolvidas no processamento social e emocional, diminuem de tamanho.
Segundo as pesquisas, esse fenômeno pode ser uma preparação para os desafios da maternidade, refletindo as flutuações hormonais, especialmente o estrogênio. Algumas dessas mudanças no cérebro de grávida podem durar até dois anos após o parto.
Cérebro de grávida existe? Veja o que diz a ciência!
A nova pesquisa confirma descobertas anteriores e traz novos detalhes. Por exemplo, as fibras da substância branca do cérebro mostraram maior capacidade de transmitir sinais de forma eficiente durante a gravidez.
No entanto, essa melhoria desapareceu após o nascimento do bebê. “O que torna esse estudo tão interessante é o nível de detalhamento do mapeamento cerebral obtido,” comenta Elseline Hoekzema, neurocientista que dirige o Laboratório de Gravidez e Cérebro no Centro Médico da Universidade de Amsterdã.
De acordo com Hoekzema, as mudanças associadas ao cérebro de grávida não são apenas duradouras, mas também incluem alterações sutis e temporárias.
Ronald Dahl, diretor do Instituto de Desenvolvimento Humano da Universidade da Califórnia, Berkeley, que não participou do estudo, observa que essas descobertas refletem o papel vital dos hormônios em transições importantes como a gravidez. “Essas mudanças no cérebro indicam como os hormônios moldam nossas prioridades e motivações durante esses períodos críticos,” diz Dahl.
Neurocientista e grávida
Elizabeth Chrastil, neurocientista da Universidade da Califórnia, Irvine, participou do estudo enquanto estava grávida como revelou Pam Belluck em matéria publicada no The New York Times.
Ela engravidou em 2019 e acompanhou sua gestação com 26 ressonâncias magnéticas cerebrais, feitas antes, durante e após a gravidez. “Foi incrível poder analisar meu próprio cérebro durante esse período tão especial. Eu sabia que o cérebro mudava, mas as diferenças foram realmente impressionantes,” revela Chrastil.
Durante a gravidez, a neurocientista não notou sintomas específicos relacionados às mudanças cerebrais, apelidadas como cérebro de grávida, mas as ressonâncias mostraram reduções significativas no volume de massa cinzenta e na espessura cortical.
Na nona semana de gestação, 80% das áreas analisadas mostraram um encolhimento médio de 4%, com a mudança sendo mais acentuada na rede de modo padrão, essencial para reconhecer emoções e perspectivas alheias.
Emily Jacobs, neurocientista da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara e autora sênior do estudo, explica que o encolhimento cerebral durante a gravidez não é negativo e reflete um processo de “poda” que permite ao cérebro se especializar. “Assim como Michelangelo revela a beleza de uma escultura ao remover o excesso de mármore, o cérebro também passa por um processo de aperfeiçoamento durante a gravidez,” diz Jacobs.
Avanço da ciência e outros estudos
Para comparação, os pesquisadores analisaram cérebros de oito pessoas não grávidas, incluindo dois homens, e não encontraram as mesmas alterações.
No entanto, o escaneamento cerebral de várias mulheres após a gravidez mostrou padrões semelhantes aos de Chrastil. “Os dados mostram que as alterações cerebrais durante a gravidez estão associadas a como o cérebro e o corpo da mãe reagem ao bebê, influenciando aspectos como o vínculo materno e o comportamento de preparação para o nascimento”, afirma Hoekzema.
Dahl acrescenta que os hormônios da gravidez podem criar “janelas de aprendizado” que ajudam a mãe a se adaptar, formar laços e responder ao bebê. “Portanto, o suporte social e emocional durante a gravidez é ainda mais importante, pois o cérebro está sintonizado para priorizar essas novas experiências”, destaca Dahl.
Embora a criação dos filhos envolva uma complexidade única, como observa Jacobs, pais adotivos e outros cuidadores também demonstram comportamentos essenciais para o cuidado infantil, mesmo sem vivenciar a gestação.
Os pesquisadores acreditam que estudar essas mudanças cerebrais associadas ao cérebro de grávida pode fornecer insights valiosos sobre condições como a depressão pós-parto e os efeitos neurológicos da pré-eclâmpsia. “Estamos apenas começando a entender essas transformações cerebrais”, conclui Chrastil.
Leia também:
CBD, melatonina, terapia e mais: saiba como acabar com a insônia com tratamentos alternativos
É possível prevenir a demência? Nova série comandada por Drauzio Varella aborda a doença
Ciclotimia: entenda o transtorno raro do filho de Marília Gabriela