“Eu morava em um condomínio, e acabei engravidando na mesma época que três outras mulheres. Só que eu sempre tive muito leite, e uma delas não tinha o suficiente para amamentar. Então, ela deixava a criança comigo para que eu alimentasse. Algum tempo depois, as outras mães começaram a pedir para que eu desse de mamar para os filhos delas enquanto estavam fora.”
O depoimento de Lourdes Gimenez, de 76 anos, demonstra o quanto a prática da amamentação cruzada -como é chamado o fato de uma mulher amamentar o filho de outra- era uma prática comum há 35 anos, quando a professora aposentada deu à luz sua segunda filha.
A prática, no entanto, é totalmente desaconselhada nos dias atuais. Andreia Friques, especialista em nutrição materno infantil e presidente da Associação Internacional de Nutrição Materno Infantil (Abranmi), explica para AnaMaria Digital que ela pode trazer riscos para a criança.
O maior problema é contaminar o bebê com alguma doença que essa mãe que amamenta possa ter e ainda não sabe, como hepatite B ou mesmo Aids. “Elas podem ser transmitidas se o bebê não tiver tomado todas as doses da vacina, ou se a mulher tiver algum sangramento no mamilo ou uma fissura, assim como outras doenças infectocontagiosas também”, ressalta.
Além disso, a especialista frisa que cada mãe produz um leite específico para o seu bebê, e que sua composição e valor imunológico variam de acordo com a necessidade da criança.
SIM, AINDA ACONTECE
Andreia explica que, apesar dos índices terem diminuído, uma parcela de mulheres continua optando pela prática. A especialista acredita que isso ocorra por pura falta de informação sobre o assunto.
“A existência de amas de leite é um fato conhecido históricamente, tanto no Brasil quanto no mundo, mas com toda ciência que temos hoje em dia, além da tecnologia e informação científica, precisamos contraindicar, pelo bem dessas crianças. Além de repassarmos informações de qualidade sobre o assunto”, diz.
Lourdes Gimenez Ortiz (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
Lourdes, por exemplo, alega que não tinha o conhecimento de que a amamentação cruzada poderia oferecer riscos para a saúde dos bebês. “Naquela época não tinha como saber. Eu higienizava o bico dos seios de uma mamada para a outra, mas não tinha o conhecimento de que aquele gesto poderia ser prejudicial.”
NÃO CONSIGO AMAMENTAR. E AGORA?
Além das fórmulas, o banco de leite é a opção mais indicada pelos profissionais para as mães que não podem amamentar, sendo ainda um aliado daquelas que possuem mais leite materno do que o filho pode tomar, como era o caso da professora aposentada.
Diferentemente do método de amamentação cruzada, o alimento colhido nos bancos passa por diversas análises, sendo por fim pasteurizado, o que impede que qualquer doença possa ser transmitida ao recém-nascido.
“Felizmente, muitas mulheres tem o privilégio de produzirem bastante leite, o que pode salvar a vida de diversos bebês em UTIs neonatais. Por isso, é necessário que haja o incentivo à doação, uma vez que este alimento pode ajudar no desenvolvimento de crianças que tiveram seu nascimento muito precoce”, explica.
Existem bancos do tipo em diversas capitais do país, e estes lugares contam com equipes especializadas desde a coleta. Saiba mais.
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