“Em diversos momentos da minha vida, me questionava o porquê de eu ter nascido diferente das demais pessoas. Mas a minha mãe me fez entender que todo mundo tem a sua diferença e o nanismo era a minha”, conta Juliana Caldas, que ganhou destaque em 2017, ao participar da novela “O Outro Lado do Paraíso”.
Para AnaMaria Digital, a atriz contou que trabalhar na novela das 21h foi muito importante, pois deu visibilidade para a causa. “Tivemos um espaço para debatermos a nossa condição. E as pessoas assim também aprenderam a se impor mais, tudo por se verem representadas na televisão”, ressalta.
Infelizmente, porém, os episódios de preconceito são comuns. A atriz relembrou um dos momento de constrangimento pelos quais passou. “Fui comprar ingressos para um show e pedi uma área de deficientes. A vendedora disse que não poderia me vender, pois era válido apenas para cadeirantes. Relembrei que estava na lei, mas não adiantou. No fim, tive que ligar para um advogado. Consegui comprar, mas é triste esse tipo de constrangimento”.
De acordo com a Lei nº 3.298/99, o nanismo é reconhecido como deficiência física desde 2004. Segundo o art. 4º do Decreto 3.298/1999, é considerada pessoa assim todas as que se enquadram nas categorias de deficiência física, mental, visual, auditiva e deficiências múltiplas, ou seja, aquelas com associação de duas ou mais deficiências.
DIFERENÇA É DETALHE
Na visão da influencer digital Rebeca Costa, a falta de respeito das pessoas é algo frequente em sua rotina, mas ela não se deixa abater. “A diferença é um detalhe no ser humano. O que a sociedade dita é muito menor do que aquilo de bom que a gente carrega. Preciso olhar para isso de forma saudável, caso contrário eu não vou viver nunca”, conta.
Rebeca conta que sua família foi um grande pilar quando percebeu que seu físico era diferente. “Em nenhum momento eles me esconderam a minha deficiência, mas, ao mesmo tempo, não me moldaram. Eles me construíram para o mundo real, pois sabiam que o mundo não seria adaptado para mim”.
Rebeca Costa é dona do Instagram @looklittle. Foto: Arquivo Pessoal
INCLUSÃO
Em 2017, o então presidente Michel Temer instituiu a Lei 13. 472/2017 que declara o dia 25 de outubro o ‘Dia Nacional do Combate ao Preconceito Contra as Pessoas com Nanismo’. Entretanto, a falta de inclusão e acessibilidade ainda está presente nos dias atuais.
Rebeca acredita que a maior limitação é a falta de inserção dos pequenos na sociedade. “A inclusão ainda é um assunto a ser debatido. Tem coisas no alto que eu não consigo pegar em um estabelecimento ou não consigo ter acesso ao balcão, ou seja: o ambiente não está pronto para nos atender. Se todos os ambientes fossem inclusivos, não existiriam obstáculos”, explica.
POSSO CHAMAR DE ANÃO?
Muitas pessoas acreditam que não há problema em usar o termo “anão” ou “anã”. Mas Rebeca Costa garante que a linguagem não é a correta. Tudo porque antigamente o nome era utilizado como uma forma de depreciar a imagem da pessoa com nanismo. “É pejorativo”, disse.
Segundo ela, o melhor é chamar de portador de nanismo ou pessoa com nanismo. Já para Juliana, usar uma palavra diferente não vai mudar o cenário de preconceito. Segundo a mesma, tudo depende da forma que você fala, independentemente do nome escolhido.
AUTOESTIMA EM ALTA
Para Juliana, a receita é simples: aceitação. “Em primeiro lugar devemos nos aceitar e fazer o que o que é melhor para nós e mais ninguém. Mesmo longe dos padrões da sociedade, eu cuido da minha autoestima interior e, assim, deixo o meu exterior transparecer isso”.
Já Rebeca diz que a maior dica para mudar a visão sobre si mesmo é não se deixar levar pelo olhar e opinião do próximo. “Todos nós temos uma diferença, cabe a nós saber o que vamos fazer com isso. Independentemente do meu tamanho, eu sei que os meus centímetros não ditam quem eu sou. O que as pessoas pensam, são apenas achismos. A partir do momento que você conhece a sua identidade, a sua autoestima se mantém ótima”.
É GENÉTICO?
De acordo com endocrinologista Evandro de Sousa Portes, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia da Regional São Paulo, o diagnóstico é feito pela história clínica do paciente e por meio de um exame físico, a fim de identificar a causa. Muitas vezes também são necessários exames de imagem e de laboratório.
“No entanto, diferente do que muitos pensam, nem sempre o nanismo é genético. Existem diversas causas, como as nutricionais, doenças crônicas, retardo constitucional do crescimento, além do desenvolvimento de determinados tumores”, explica.
Ou seja, não é porque a pessoa tem nanismo que irá gerar um filho com a mesma condição.
[[iframe width=”770″ height=”400″ src=”https://www.youtube.com/embed/MzoF4Tfmn2c” frameborder=”0″ allow=”accelerometer; autoplay; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture” allowfullscreen]][[/iframe]]