No mundo atual, os celulares se tornaram extensões de nossas vidas, facilitando a comunicação, o acesso à informação e o entretenimento. No entanto, esse uso constante pode ter um preço. Estudos recentes sugerem que a interação excessiva com dispositivos móveis está diretamente ligada ao aumento da ansiedade.
Por isso, AnaMaria conversou com a psicanalista Andréa Ladislau, que explica melhor a atuação dos aparelhos na ansiedade.
Impactos na saúde mental
O consumo excessivo de conteúdo digital pode gerar uma série de sintomas que afetam diretamente a saúde mental. A ansiedade, por exemplo, se torna uma resposta comum ao fluxo incessante de informações e às pressões sociais impostas pelas redes sociais. A constante comparação com a vida aparentemente perfeita de outros pode levar a sentimentos de inadequação e baixa autoestima.
Além disso, muitos usuários relatam dificuldades de concentração. A necessidade de estar sempre conectado e a exposição a notificações constantes podem dificultar a realização de tarefas simples, criando um ciclo de estresse e frustração. Sentimentos de inquietação e irritabilidade também se manifestam, muitas vezes impulsionados pela expectativa de respostas imediatas em conversas online ou pela pressão para se manter atualizado.
“A rolagem infinita, notificações constantes, diversidade de informações a cada milésimo de segundo, a sensação de conexão infinita com o mundo e com todos, são os principais mecanismos que geram e estimulam a ansiedade generalizada, provocando desconfortos e a manifestação de outros sintomas emocionais”, afirma Andréa.
Os impactos não param por aí. A saúde física também pode ser afetada. Muitas pessoas experimentam dores no pescoço e nos ombros devido à má postura ao olhar para as telas, além de fadiga ocular, resultado do tempo prolongado em frente a dispositivos. Esses sintomas físicos podem, por sua vez, agravar ainda mais a sensação de estresse e ansiedade, criando um ciclo vicioso.
Vida real e redes sociais
A era digital trouxe uma nova dinâmica às nossas vidas, e com ela, a inevitável comparação com o que percebemos como o “mundo perfeito” dos outros. As redes sociais, em particular, amplificam essa sensação de inadequação ao exibir vidas aparentemente impecáveis, repletas de conquistas, felicidade e estética perfeita.
Essa comparação constante pode gerar um ciclo de ansiedade e insatisfação, onde a busca pela própria identidade e felicidade é constantemente medida por padrões que, na maioria das vezes, são irreais.
A estética nas redes sociais é muitas vezes construída por meio de filtros, edições e uma curadoria cuidadosa de imagens. Isso cria uma narrativa de perfeição que pode ser inatingível para a maioria das pessoas. O desejo de corresponder a essas expectativas, tanto em aparência quanto em estilo de vida, pode resultar em sentimentos de inadequação.
“O excesso de celular e de tecnologia, por longos períodos durante o dia, aceleram a atividade cerebral, aumentam o estresse e favorecem o surgimento de diversos sentimentos negativos, bem como a ansiedade como compulsão por permanecer conectado e consumindo informações”, aponta a especialista.
O despejo incessante de informações, notícias e notificações pode ser avassalador. Vivemos em um mar de dados que, em vez de nos informar, muitas vezes nos sobrecarrega. Essa inundação de estímulos pode provocar sintomas de ansiedade, como palpitações, tensão muscular e dificuldade de concentração.
As pessoas se sentem compelidas a responder imediatamente a mensagens, a se manter atualizadas sobre eventos e a participar de discussões online, tudo isso enquanto tentam equilibrar suas vidas pessoais e profissionais.
“Conforme o conteúdo consumido, gatilhos emocionais podem ser acionados, influenciando no nível de ansiedade e estresse, por estimular sentimentos de medo, preocupações, comparações, tristeza, alegria, insegurança, inferioridade, dentre outros”, completa ela.
Nesse cenário, é fundamental cultivar uma perspectiva crítica sobre o que consumimos nas redes sociais. Reconhecer que a perfeição apresentada é frequentemente uma ilusão pode nos ajudar a redefinir nossas expectativas e a buscar uma vida mais autêntica.
Valorizar nossas próprias experiências, em vez de nos compararmos a um ideal inatingível, é um passo importante para reduzir a ansiedade e encontrar satisfação no presente.
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Pausas tecnológicas
Em um mundo tão conectado, onde o uso de dispositivos eletrônicos se tornou quase automático, o incentivo a pausas tecnológicas é crucial para nossa saúde mental e física. Esses momentos de desconexão permitem que nossas mentes descansem do fluxo constante de informações e estímulos que nos cercam. Ao tirar um tempo para respirar, refletir e se reconectar com o ambiente ao nosso redor, podemos reduzir os níveis de estresse e ansiedade.
Adotar novos hábitos e hobbies é uma maneira eficaz de preencher o tempo que costumamos gastar nas telas. Atividades como leitura, pintura, jardinagem ou aprender a cozinhar não só oferecem uma forma de entretenimento, mas também estimulam nossa criatividade e bem-estar. Essas práticas podem nos ajudar a descobrir novas paixões e, ao mesmo tempo, promover uma sensação de realização que muitas vezes falta no mundo digital.
A prática regular de exercícios físicos é outra ferramenta poderosa na busca por um equilíbrio saudável. O exercício libera endorfinas, conhecidas como os hormônios da felicidade, que podem melhorar nosso humor e reduzir a ansiedade. Além disso, estar ativo fisicamente também fortalece o corpo, melhora a qualidade do sono e promove uma sensação de bem-estar geral.
Promover o autocuidado é fundamental em nossa jornada de desconexão. Isso envolve não apenas cuidar do corpo, mas também da mente. A meditação, por exemplo, é uma prática que ajuda a centrar os pensamentos e a valorizar o momento presente. O autoconhecimento, por sua vez, nos permite entender nossas emoções e necessidades, levando a escolhas mais saudáveis e satisfatórias.
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