Gloria Pires está de volta à TV sob a alta expectativa de viver Dona Lola, a icônica protagonista de ‘Éramos Seis’.
A personagem é a estrela principal da obra literária de Maria José Dupré, que ganha sua quinta versão para as telinhas, agora como a nova novela das 18h da Globo.
À AnaMaria, a atriz conta como a história do folhetim a faz lembrar dos pais nascidos nos anos de 1920 (época em que se passa a trama), relembra que, embora tenha vivido momentos difíceis ao lado deles no passado, nunca perderam a fé e fala, orgulhosa, da família que formou com o marido, Orlando Morais, e os quatro filhos: Cleo, Antonia, Ana e Bento.
ASSISTIU À VERSÃO DE 1994 DE ÉRAMOS SEIS, NO SBT, COM A IRENE RAVACHE NO PAPEL DA LOLA?
Li o livro e ele é bem mais triste e pesado do que a novela. O folhetim tem um lado de humor, romance… Fazer esse personagem é emocionante, pois a novela é icônica. Quem viu em 1994 está ansioso para conferir a nova versão. A própria equipe tem uma sensação de honra em participar desse projeto.
O LIVRO ORIGINAL DE MARIA JOSÉ DUPRÉ, ENTÃO, FOI UMA FONTE DE INSPIRAÇÃO IMPORTANTE?
Sim, pois o livro tem todo o peso dessa época. Claro, não faremos a história pesada. A gente quer uma novela das 18h, uma trama bem mais leve – que traga realidade com leveza. O livro é mais dramático.
COMO ENCARA A RESPONSABILIDADE DE FAZER UMA PERSONAGEM TÃO MARCADA NO IMAGINÁRIO DE MUITOS TELESPECTADORES?
Procuro não pensar nisso [risos]. Todo mundo quer fazer alguma coisa nova. Então, qual o sentido de buscar o que já foi feito? Nenhum! Até o público que já assistiu às versões anteriores quer ver algo novo. Tanto que a autora [Ângela Chaves] traz algumas tramas que não existiam nas outras versões e dá mais espaço a personagens que nas outras versões não apareciam tanto.
CONVERSOU COM A IRENE RAVACHE SOBRE A LOLA?
Não… Infelizmente, porque a adoro. Não encontro a Irene desde a novela Guerra dos Sexos [2012]. A Nicette Bruno [que viveu a Dona Lola em 1977] esteve conosco no primeiro dia de encontro de toda a equipe. Ela, Osmar Prado e Othon Bastos [intérpretes de Júlio e de Zeca na versão de 1994] estiveram lá, dando depoimentos, falando da emoção de rever essa novela, do quão importante foi para a carreira deles. Existe essa aura de amor, emoção… E é tudo que a gente quer para contar essa história: o coração na mão o tempo todo!
COMO ESTÁ CONSTRUINDO A SUA VERSÃO DA PERSONAGEM?
A minha Lola é uma mãe que não é boazinha, mas amorosa. Ela procura compreender e ajudar os filhos. É também uma esposa dedicada, que honra muito o casamento, a casa. O fato de ter adquirido a casa é um peso enorme para essa família, que fará de tudo para conseguir honrar esse compromisso e ter o imóvel no fim da vida. A casa é uma personagem também. A Lola está dentro desse ambiente, onde todos são envolvidos pelo amor, prazer de estarem juntos, mas driblando as dificuldades da vida.
A LOLA, COMO ERA NORMAL À ÉPOCA, É BASTANTE SUBMISSA AO MARIDO, NÃO?
Todas as mulheres dessa época eram assim! A vida era muito dura. Elas dependiam do marido… Essa novela enaltece o poder que toda mulher já tinha naturalmente. Elas são as grandes mantenedoras dos lares, das famílias, sempre foram!
E ELAS CONTINUAM TENTANDO MANTER OS SEUS SONHOS VIVOS?
Os sonhos não morrem nunca. Claro, tem temperamentos e temperamentos, né? Mas viver sem sonho é um pouco difícil. A novela fala disso. A gente quer mostrar como a vida era dura, de trabalho físico… Não existia toda essa tecnologia. Tudo era mais complicado.
A SUA LOLA TERÁ UM DESTINO TÃO TRISTE E SOLITÁRIO COMO NA OBRA ORIGINAL?
Ninguém ousou fazer Éramos Seis como está no livro por ser de uma crueza que a gente termina realmente no chão. A ideia é ter a Lola, a família, a casa e a história como pano de fundo, mas de forma inspiradora. Que leve as pessoas a acreditarem nos sonhos, propósitos e se dedicarem a realizar o que desejam.
COMO É CONTRACENAR COM OS JOVENS ATORES QUE FAZEM OS SEUS FILHOS?
Eu já conhecia o Xande [Valois, intérprete de Carlinhos] de Babilônia [2014]. Mas o Davi Oliveira, Pedro Sol e Maria Júlia [Maju Lima] eu não conhecia. Estou encantada com eles! Também estou encantada com o Antonio Calloni. É a primeira vez que fazemos um casal e tem sido uma delícia. A Kelzy Ecard também… Eu a admiro há tantos anos e, agora, interpretamos melhores amigas. Estou muito feliz.
VOCÊ TEM UM HISTÓRICO DE REMAKES: MULHERES DE AREIA, ANJO MAU, GUERRA DOS SEXOS… ENCONTROU UM MÉTODO PARA SE RELACIONAR COM PERSONAGENS TÃO ‘GRANDES’?
Adoraria dizer que tenho um método, mas não tenho [risos]. O que trago sempre, não só para remakes, mas para todos os personagens, é esse olhar despido, que procura o novo, o frescor. Para mim, novela de época é complicada porque busco trazer leveza. Não quero fazer de forma fixa, rígida… Quero humanidade, algo natural do dia a dia.
PARA CHEGAR A ISSO, VOCÊ DEVE ESTUDAR MUITO…
Estudo muito, leio tudo o que eu posso sobre o tema. Nessa novela, os álbuns de família estão sendo meus companheiros. E isso me emociona. Por exemplo, meus pais nasceram nos anos 20. Me lembro do meu pai [o ator Antônio Carlos], contando os detalhes desse período. E passeando pela cidade cenográfica, me lembro das coisas que ele me dizia, identificando a chapelaria, as sacadas, a postura das moças, os carros… Tudo que ele me contava, agora vejo aqui! A história da novela é sobre o que acontece dentro do íntimo de cada um.
O QUE A MÃEZONA DA NOVELA, LÁ DA DÉCADA DE 20, TEM A VER COM A MÃEZONA ATUAL?
O que toda mãe tem, né? Claro, ninguém é perfeito nem ninguém tem uma fórmula para seguir. O primeiro filho talvez seja a coisa mais sofrida, pois existe inexperiência. O primeiro filho é a faculdade, a dureza [risos]. A gente aprende a ser mãe junto com aquela primeira criança. Na novela não tem grandes atos heroicos… A não ser os pequeno atos heroicos diários.
A FAMÍLIA BRASILEIRA MUDOU MUITO DAQUELA ÉPOCA PARA CÁ?
Claro! É consenso da direção e da equipe trazer o realismo. Queremos fazer uma novela de época que não pareça um álbum de retratos, mas de pessoas reais, que transpiram, onde o cabelo não é impecável. Muita coisa mudou, muita coisa foi acrescentada.
O QUE MUDOU, POR EXEMPLO?
O machismo, o papel da mulher na nossa sociedade…
COMO É A SUA RELAÇÃO COM A COSTURA, PROFISSÃO DA LOLA?
A mãe da Lola era viúva e criou as três filhas fazendo doce. Em princípio, a Lola trará esse know-how de fazer os doces para ganhar dinheiro. Ela costura, faz as roupas dos filhos, faz tricô para vender e colaborar com o orçamento da casa. Eu, Gloria, tenho a maior ligação com a costura, porque a minha mãe fazia coisas pra mim e minha irmã. Então, ela ficava na máquina de costura o tempo inteiro e nós com ela. Adoro essas muitas lembranças. Sei fazer bordado e aprendi tricô para a novela – o que também é uma delícia, já virou um vício. É difícil, mas depois que você pega, é uma loucura, não quer largar! [risos].
VOCÊ COSTURA À MÁQUINA?
Aprendi a costurar à máquina com a minha mãe. A máquina que usamos na novela não era a que a minha mãe usava. Essa é a de pedal, na qual também aprendi [a trabalhar]. Esse é o maravilhoso de ser ator, né? A gente tem acesso e aprende tantas coisas… Quando fiz O Tempo e o Vento, aprendi a fiar.
O PAPEL TAMBÉM É UMA HOMENAGEM À SUA MÃE?
Com certeza! À minha mãe e à minha avó, Deolinda, que está aqui comigo, com a pulseira que era dela. [mostra o adorno]. Ela era mãe do meu pai e muito amiga da minha mãe. Elas tinham essa sororidade dos tempos modernos naquela época.
ELAS COSTURAVAM POR GOSTO?
A minha mãe por gosto. Ela adorava fazer coisas novas e criativas para nós. Os meus pais eram engraçados e criativos! Queriam sempre coisas diferentes. Então, estou voltando ao passado com esse trabalho. Cada vez que leio uma cena, alguma coisa me remete a algo que minha mãe, pai ou avó dizia.
JÁ CHEGOU A CHORAR COM ALGUMA DESSAS CENAS?
O que a Lola mais faz, coitada, é chorar! [risos] Mas não me emocionei por lembrar da minha família em uma cena em si, mas por todo o ambiente e dureza. Se aproximar dos anos 20, estar perto da realidade das pessoas… Era uma vida dura. E as pessoas, ainda assim, tinham tanta alegria, esperança.
RECENTEMENTE, DUAS DE SUAS FILHAS (CLEO E ANTONIA MORAIS) DERAM ENTREVISTA AO CONVERSA COM BIAL E MUITA GENTE, APÓS O PROGRAMA, ELOGIOU A EDUCAÇÃO DELAS…
Imagine como eu fiquei, né? [orgulhosa].
COMO É SUA RELAÇÃO COM ELAS?
Elas são motivo de orgulho pra mim. A coragem delas, e a autenticidade também.
OS HATERS COSTUMAM PEGAR PESADO COM A CLEO NAS REDES SOCIAIS, INCLUSIVE PELO JEITO ‘LIVRE’ DE ELA VIVER – CRÍTICAS ÀS QUAIS ELA REAGE COM MUITA ELEGÂNCIA. MAS COMO VOCÊ, COMO MÃE, LIDA COM ISSO?
Acho a atitude dela perfeita. A Cleo tem que ser feliz. Acho que todo mundo precisa se encontrar. Nunca tive essa expectativa, do que os meus filhos iriam ser… Porque acho difícil encontrar o próprio caminho. Eu aplaudo ela, a Antonia, a Ana e o Bento no que escolherem ser. Apoio total a eles.
VOCÊ MENCIONOU O IMPACTO QUE A QUESTÃO DA COMPRA DA CASA TEM NO DIA A DIA DA FAMÍLIA DA LOLA. VOCÊ OU SUA FAMÍLIA TEVE ESSA DIFICULDADE NO INÍCIO DA VIDA, DE COMPRAR UMA CASA, MANTER UMA VIDA ESTÁVEL?
Eu sou filha de ator [risos]… Artista agora está muito melhor. Agora, por exemplo, a gente tem a Interart Brasil, uma associação de gestão coletiva dos artistas do audiovisual. Isso não existia. Antigamente, nem sequer podia assinar a carteira como artista! Éramos como comerciário ou prostituta. A gente não tinha a profissão regulamentada nem reconhecida. Então, eu e minha família tivemos uma vida bastante difícil, sim. Mas sempre com esse olhar para a metade da garrafa cheia. Essa maneira de ver a vida com positividade e fé. E não só ver, mas fazer! Suar a camisa e ir em busca do objetivo.
VÊ ISSO NA LOLA?
Sim. Com todas as dificuldades que a família dela passa, a incompreensão do marido, a frustração dele quando não é reconhecido pelo patrão… Enfim, ela lida com esses assuntos de uma forma positiva, como eu via na minha casa. A Lola vai sofrer muito, ficar magoada, mas não perderá o olhar para o futuro, não deixará de buscar uma solução.
ÉRAMOS SEIS FALA DE SONHOS, FAMÍLIA, UNIÃO. QUAL A IMPORT NCIA DE SE CONTAR UMA HISTÓRIA ASSIM NO ATUAL CENÁRIO SOCIAL, POLÍTICO, ECONÔMICO DO BRASIL?
A arte tem a capacidade de fazer a gente pensar, se instruir, aprender com outros hábitos, épocas. A novela tem essa emoção, olho no olho, de estar próximo…
VOCÊ E SEU MARIDO, O CANTOR ORLANDO MORAIS, TÊM QUATRO FILHOS. MAS A CLEO E A ANTONIA JÁ MORAM FORA. ENTÃO VOCÊS NÃO SÃO MAIS SEIS. SENTEM SAUDADE DE QUANDO ERAM OS SEIS JUNTOS EM CASA?
Quando o Bento nasceu, a Cleo já não morava conosco. Eles têm 22 anos de diferença. Então, nunca fomos os seis na mesma casa. Não o tempo todo, ao menos, só nas férias, Natal… Mas, para mim, sempre seremos seis!
ADOTARIA UM FILHO HOJE?
Sim. Acho bonito isso.
SER MÃE É UM DOS SEUS MELHORES PROJETOS?
É do que eu mais gosto!