Maísa Silva deu uma entrevista recente ao programa ‘Provocações’, da TV Cultura, revelando ter sofrido bullying quando era criança. Segundo a apresentadora, seus coleguinhas de escola na época adoravam chamá-la de ‘menina monstro’, expressão popularizada em um quadro do ‘Pânico na TV’.
O apelido se espalhou muito rápido. “Gritavam: ‘não encosta nela que você vai virar um monstro’. Eu ficava triste porque conhecia o pessoal do programa e sabia que era brincadeira, mas meus amiguinhos não”, disse.
Assim como Maísa, uma em cada três pessoas entre 13 a 15 anos de idade são vítimas de bullying. É o que diz um relatório da Unicef, feito em setembro de 2018. O mesmo estudo mostrou que 30% de alunos, em 39 países industrializados, admitiram ter praticado bullying contra colegas.
AnaMaria Digital conversou com especialistas para tentar entender o que se passa na cabeça de quem pratica bullying.
COMO TUDO COMEÇA?
O bully, expressão usada para se referir ao agressor, normalmente possui uma conduta específica.
Segundo a psicóloga comportamental Aline Gerbasi, na maioria das vezes os praticantes são crianças com dificuldade de empatia, que possuem forte gosto pela sensação de poder sobre o outro. “O comportamento do agressor tende a ser provocativo e intimidador, com uma forte tendência a resolver conflitos com agressividade”, ressalta.
Mas essa pessoa geralmente precisa de um elemento para desencadear uma reação agressiva. Assim, Aline diz que normalmente os herdeiros reproduzem modelos familiares pouco afetivos e agressivo. “Isso significa imitar as figuras de confiança, com quem passam a maior parte de seu tempo: os pais ou cuidadores”, diz.
Para ilustrar seu ponto de vista, ela descreve como uma situação pode ocorrer: “Quando um pai abusa de uma mãe e dois filhos presenciam esse momento, um filho pode apresentar a mesma personalidade do genitor e o outro pode repetir a atitude vinda do lado materno”, ressalta.
No entanto, observando de um outro ponto de vista, a profissional destaca que este não é necessariamente um fator determinante. “Isso não significa que crianças que vivem em ambientes mais equilibrados emocionalmente não possam apresentar esse problema, mas, sem dúvidas, o ambiente e os modelos presenciados são fortes influências”, afirma.
ELE PERCEBE O MAL QUE CAUSA?
Geralmente, o praticante tem consciência de cada ato e maldade que faz. No entanto, Aline declara que alguns interesses dele têm mais importância para si. “A necessidade de pertencer a um grupo e demonstrar sua soberania sobre o outro parece sobrepor à sua capacidade de ser empático”, explica.
De acordo com a psicóloga comportamental, a vítima normalmente é escolhida por ser introspectiva e apresentar dificuldades de se posicionar em determinada situação, mas o ciúmes e a inveja do agressor também podem ser motivos para a perversidade.
O QUE FAZER?
Quando os pais ou professores percebem este costume, o ideal seria procurar um tratamento especializado, pois, acima de tudo, se trata de um jovem que tem grandes dificuldades em socializar. “O agressor pode estar sofrendo tanto quanto quem é agredido”, avalia Aline.
Já a doutora e psicanalista Ana Olmos reitera que, neste momento, a vítima tem que reportar a violência, pois, em sua opinião, essa atitude contribui para o bem de ambos os lados. “Paulo Freire dizia que os oprimidos libertarão os opressores. Então, quando um menino ou uma menina torna o abuso público, ele está ajudando o agressor”, conta.
O PAPEL DA ESCOLA
Ana avalia ainda que a escola precisa se colocar como responsável. “A instituição tem que estar muito presente para perceber as situações que não estão explícitas, que não são denunciadas pela vítima”, diz.
A terapeuta cognitiva comportamental afirma ainda que, caso a instituição de ensino não tomar o controle e o agressor e a vítima “não forem observados e tratados com devida atenção, as consequências para ambos podem ser devastadoras”.