A história da novela ‘Bom Sucesso‘ já estava na metade do caminho quando Angela Vieira, de 67 anos, foi escalada de surpresa para fazer parte da trama.
Fã do folhetim, ela aceitou o convite para viver Vera, uma mulher traída pelo marido após anos de casamento, que redescobre a importância de ser valorizada com a companhia de Alberto (Antonio Fagundes).
O público torce por um romance entre os dois mesmo sabendo da doença fatal do protagonista. No entanto, Angela diz desconhecer o futuro do folhetim.
A seguir, ela fala sobre o êxito da personagem, infidelidade e conta como é contracenar com atores da nova geração.
COMO É ENTRAR NO MEIO DE UMA NOVELA DE SUCESSO?
Chegar a uma trama que já está na metade é sempre uma coisa meio complicada. Todo mundo já está em outro esquema, as relações já estão desenvolvidas… Mas tive sorte: eu realmente acompanhava a novela e mandei muitos recados para colegas que fazem parte dessa história. Em especial para a direção, porque foi com 90% dessa equipe que fiz Pega Pega [2017]. Ou seja, trata-se de uma equipe com a qual eu já estava muito familiarizada e que trabalha com muita tranquilidade. Como vejo todo mundo muito feliz aqui, então, foi uma boa chegada.
JÁ SABIA QUE ENTRARIA PARA A TRAMA?
Não sabia. Tanto que tive uma reunião de produção poucos dias antes de ser chamada porque iria estrear um espetáculo em janeiro. Na novela, provavelmente, Vera não fique até o fim, pelo menos é o que me falaram. Agora eu estaria em processo de ensaio, mas seria impossível porque gravo praticamente todos os dias. Então, adiei a minha estreia para março. Foi uma agradável surpresa.
COMO EXPLICA A VERA?
Ela é uma personagem muito legal, muito bonita. Trata-se de uma porta-voz de coisas que acho boas de falar e serão bem-vindas para o público. Ela tem relações distintas: uma com o neto, que é linda e ela se despe de qualquer coisa, além de fazer dele um confidente. Esse neto está em uma família em que os pais têm dificuldade de chegar até o menino e entendê-lo. Vera entra exatamente no canal porque ela compreende o que está acontecendo. Além disso, ela quer voltar ao mercado de trabalho, pois foi uma publicitária de muito sucesso, mas está defasada, não sabe nada de internet. Então, esse neto vira o professor dela. A partir daí, o rapaz vai se abrindo e eles vão se completando.
E AS OUTRAS RELAÇÕES?
Tem a filha… Não que elas não tenham uma boa relação, mas a Vera acha a Eugênia [Helena Fernandes] dissituada em certas coisas. Tem o envolvimento com o Alberto [Antonio Fagundes]. Os dois têm a mesma idade e ela chega muito machucada por ter sofrido uma traição do marido com quem foi casada por muitos anos. Como a Vera está, realmente, com vontade de mudar de vida, vê no Alberto essa possibilidade, pois o considera um homem inteligente, culto… Além disso, eles têm muita afinidade. Ela se encanta com o fato de ter um homem tão gentil a valorizando de verdade.
EXISTE UM CERTO AR DE CIÚME DA PALOMA (GRAZI MASSAFERA) EM DIREÇÃO A VERA?
Há uma estranheza por parte da filha, a Nana [Fabiula Nascimento], e da Paloma, que está muito próxima a Alberto. Elas estranham ver uma outra mulher por perto com uma relação muito legal, cordial e alegre. Eu não sei exatamente como isso vai se desenrolar, não sei se é ciúme…
POR QUE ELA NÃO FICA ATÉ O FINAL NA NOVELA?
Sendo sincera, não sei mesmo. Acho que ela veio para dar essa mexida, porque também não sei como vai terminar a história.
VOCÊ É BOA COM A INTERNET?
Praticamente uma Vera [risos]! Meu marido e minha filha me salvam muito. Na verdade, não sou como a Vera, mas sou mais ou menos…
O QUE ROLARÁ COM O ALBERTO?
Não sei ainda. Estou na fase do encantamento, mas ela fica lisonjeada ao ver o Alberto dizer que é uma profissional muito competente, de ele estar muito feliz por ela ter entrado na Prado Monteiro. E Vera tem sido afagada. Uma mulher da idade dela quando é traída fica achando que não tem mais chances de ser cortejada, de ser admirada e ter uma relação amorosa. Acho que isso passa pela cabeça da maioria das mulheres, principalmente no Brasil. O importante é a mulher não acreditar nisso, porque é possível, então, sair para a vida. Essa coisa com o Alberto deixa a Vera feliz, porque ela se sente bem tratada. Eles têm essa identidade intelectual. Gravei uma cena em que eles falam dos filmes prediletos, ele diz uma frase e ela completa… Então, existe essa identidade e ele a completa.
A NOVELA TEM MUITOS TRECHOS E DIÁLOGOS DE LIVROS…
Isso é muito legal. Li que esse contexto está repercutindo bem e já existe gente fazendo movimentos de leitura com pessoas de idade mais avançada. Enfim, tudo o que a gente precisava. Já que ainda não temos uma boa educação, e tenho esperança de que tenhamos um dia, o que a gente puder fazer para a cultura ser difundida, principalmente incentivar a leitura, nós faremos. A leitura, além de abrir novos horizontes para a pessoa, ajuda a falar bem, escrever mais corretamente… e você também se complementa.
EM SE TRATANDO DE LITERATURA, QUAIS SUAS PREFERÊNCIAS?
Gosto muito de ler ficção e gosto muito de história também. Adoro história contemporânea e não sei se isso vem de um professor de literatura. Estava lendo aquele Sapiens e é maravilhoso.
COMO A VERA LIDA COM A DOENÇA DO ALBERTO?
Vou roubar a frase que a Rosane Svartman e o Paulo Halm, autores da novela, escreveram para a Vera dizer em alguma cena e da qual sou totalmente adepta: ‘Prefiro sofrer pelo que fiz a me arrepender por algo que não fiz’. Então, ela enxerga na situação com o Alberto um momento em que pode dar um grande prazer a ela, aliás, essa situação já está dando um grande prazer a Vera e, acho, ela vai em frente. Não sei o que vai acontecer com esse casal, mas muito provavelmente ela vá sofrer com a possível morte dele ou com a ruptura da relação.
COMO É GRAVAR COM O ANTONIO FAGUNDES?
Uma delícia. Não o encontrava desde Por Amor [Globo, 1998] e eu nunca tinha feito par com ele, estava sempre na periferia, fazendo par com outros.
O ELENCO TEM MUITOS JOVENS E CRIANÇAS. COMO TEM SIDO CONTRACENAR COM ATORES DA NOVA GERAÇÃO?
A Valentina Vieira e o João Bravo são uma coisa… Ontem, eu estava gravando e ela fez um comentário sobre uma reação que eu tive na mesa. Estávamos sentadas eu, ela e a Fabiula Nascimento. A Valentina fazia uma pergunta e eu tinha um momento de reações. E ela falou: ‘Ai… essa reação é legal, né? Porque ela realiza isso…’ Enfim, a Valentina é muito boa, a escalação foi muito acertada. Aliás, não tem ninguém fora do tom, todo mundo está muito bem.
VERA SOUBE DA TRAIÇÃO DO DIOGO (ARMANDO BABAIOFF) E QUASE OBRIGA A EUGÊNIA A CONTAR PARA A NANA…
É porque aí morde o calcanhar dela, a traição. Então se mete na vida do outro, não tem nada a ver com isso, mas se mete.
VOCÊ FARIA ISSO?
Eu não me meteria, porque acho muito perigoso. A vida de cada um é de cada um. Por mais intimidade que você tenha, a vida é da pessoa. Você pode estar fazendo bem, mas também pode não estar.
PERDOARIA UMA TRAIÇÃO?
Cada caso é um caso, né? Eu não sei exatamente, porque você só vai saber como reagir quando sentir na pele. Essa teoria eu não tenho mesmo, não gostaria de ser traída, ninguém gostaria. Eu acho que quebrava ele todo, mentira [risos].
COMO É TRABALHAR A REDESCOBERTA DO AMOR NA MATURIDADE?
Uma maravilha! Eu e meu marido [o cartunista Miguel Paiva] éramos amigos íntimos antes de começarmos a namorar. Quando começamos nosso romance, eu estava com 50 anos e achei um espetáculo. Senti aquela coisa no peito que é efervescente, você se sente tendo uma emoção latente. É bom.
A VERA É MUITO IMPORTANTE NA SUA CARREIRA?
A qualidade da personagem é excelente. Outro dia, me perguntaram se eu preferia fazer novela das 6, 7 ou das 9 e, de verdade, sempre que me perguntam isso digo que prefiro uma boa personagem. Não importa o tamanho… O que importa é ter uma personagem consistente para defender, porque aí ela te leva. É bom de estudar, é prazeroso entrar no set.