Um fato: praticar atividade física é fundamental para crianças e adolescentes. Natação, futebol, vôlei, balé, dança…
Todas essas modalidades trabalham a musculatura dos pequenos e jovens utilizando o peso do próprio corpo ou, no máximo, um acessório auxiliar para alongamento. Porém, para ajudar no fortalecimento muscular, muitos pais apelam para a musculação. Isso é saudável?
Segundo especialistas alemães do Institute of Training Science and Sports Informatics, que publicaram um estudo sobre o assunto na revista Pediatrics, treinos de força em crianças e adolescentes podem trazer benefícios e até estimular o crescimento e fortalecimento ósseo.
Porém, é preciso que sejam aplicados de maneira lúdica e bem orientados, evitando lesões. Ou seja, nada de deixá-los circular livremente em uma academia de musculação.
“Este é um ambiente inseguro, principalmente para os mais novos que não têm um profissional especializado nessa faixa etária”, avisa a educadora física e nutricionista Kelly Kathryn C. de Oliveira, da Clínica Copacabana, no Rio de Janeiro.
E ela tira mais dúvidas sobre o assunto.
A IDADE IDEAL PARA COMEÇAR
Faltam estudos que demonstrem uma idade exata para dar início à musculação. Mas a partir do momento em que a criança começar a praticar esporte, como judô e natação, ela já utiliza o próprio peso corporal para fortalecer a musculatura.
Com 10, 11 anos, já pode usar um pouco mais de carga, mas de forma progressiva e com orientação do profissional, sempre. “Isso desde que ela não tenha dores ou processos inflamatórios, como edemas na musculatura”, orienta a ortopedista e traumatologista do esporte, vice-presidente da Sociedade Paulista de Medicina Esportiva, Ana Paula Simões.
ANTES DE MALHAR, EXAMES!
A criança deve ser submetida a um check-up médico cardiovascular e pediátrico antes de ser liberada para malhar. “Na lista de exames, podem constar testes de sangue, eletrocardiograma, raio X e outros, determinados conforme a necessidade de cada criança e histórico familiar”, explica Ana Paula.
RESTRIÇÕES
“A criança e o adolescente não têm as articulações desenvolvidas para altas cargas. Por isso, é recomendado que comecem sem cargas”, sugere Kelly. O profissional que precisa fazer uma programação desse fortalecimento, para aumentar o peso bem devagar, conforme resistência de cada pessoa. Outra restrição: suplementos, como shakes de proteínas. “Por ser algo muito específico e individualizado, deve ser feito sempre com orientação de um nutricionista”, avisa.
VANTAGENS
Segundo a Associação Nacional de Força e Condicionamento (NSCA, em inglês), o treino de força fortalece a massa óssea dos pequenos, além de estimular o crescimento e espessura do osso. Outras vantagens:
- Aumenta a concentração.
- Melhora o desenvolvimento corporal e o equilíbrio.
- Evita obesidade e hipertensão.
- Fortalece a autoestima.
- Contribui para o bom funcionamento do sistema cardiovascular.
PARA REFLETIR
Os pais devem pensar sobre qual a real necessidade de introduzir a musculação na rotina infantil. “A criança precisa brincar, ser feliz. E a escolha do esporte precisa ser natural. Por que forçar um fortalecimento tão cedo?”, questiona Ana Paula.
“Atividade para os pequenos precisa ser lúdica, divertida e com fins de desenvolvimento psicomotores e sociais. Ensinar a criança a ter regras, a sentir a sensação de derrota e vitória. Se a musculação tiver apenas um objetivo físico ou estético, melhor esperar mais uns anos”, completa Kelly.
SEU FILHO QUER COMEÇAR A MALHAR?
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda os seguintes cuidados:
- Passe por uma consulta médica antes – e periodicamente após o início dos treinos – para verificar como está o desenvolvimento dele. Crescimento inadequado pode indicar treinamento excessivo.
- Nada de frequentar academia sozinho. Seu filho precisa estar acompanhado de um instrutor preparado para lidar com crianças e adolescentes, que supervisione e passe treinos adequados para a idade.
- “A suplementação com fórmulas só deve ser indicada em casos específicos, como de atletas mirins de alta performance. No geral, para crianças e adolescentes, a suplementação é feita apenas pela alimentação”, avisa Kelly.