Talvez essa seja a mais lamentável das dietas: se contentar com fragmentos de atenção e doses homeopáticas de carinho quando a vontade é se fartar com quilos de amor. Mas tem gente que vai se conformando com esse regime drástico e vive em estado de anorexia sentimental, fingindo estar satisfeito quando, na verdade, o coração ronca de fome.
A magreza de quem consome tão poucas calorias de dedicação não se repara no corpo, mas nos olhos baixos. Nos gestos comedidos de quem tem medo de parecer exigente demais e teme perder a travessa rasa que lhe oferecem.
Dessa forma, o amor que deveria vitaminar, enfraquece, faz perder as forças. Você não caminha na mesma direção, mas fica atrás, recolhendo, como um pombo magro, os farelos lançados, tentando se convencer que estão lhe servindo um banquete.
VIAGEM ERRADA
Amar não é – ou não deveria ser – justificativa para aceitar qualquer condição só pelo direito estreito de se manter nos arredores. A resignação não faz parte das contraindicações na bula do amor. Amor também não é bilhete da terceira classe, que dá o direito de estar no mesmo trem, mas sem o conforto merecido. Ao contrário: quem ama deveria saber a hora de pular do trem para não fazer a viagem errada. Eu sei: o tombo machuca. Tende a provocar feridas bem difíceis de sarar, inclusive. Mas não mata. Às vezes até prova que podemos ser bem duros nessa queda.
O que mata é a anulação, a falta de autoestima. Passar a vida se esgueirando à sombra do outro, que talvez nem tenha culpa de não te ver porque, quando a gente se apequena, fica quase invisível e ninguém tem obrigação de respeitar o que nós mesmos não respeitamos.
Amor não deveria se envergonhar nem diante do não amor. Acontece: às vezes ele fica de um lado só. Mas merecemos encontrar pares e não mantermos os amados alimentados a pão de ló, com nosso melhor estoque de amor próprio, enquanto nos contentamos com qualquer migalha, fingindo ser o suficiente para saciar nosso apetite de afeto digno de churrascaria rodízio. Essa mendicância não condiz com a voracidade de quem precisa se sentir amado. Porque quando o prato é o amor, necessariamente, ele deve servir duas pessoas.
WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br