Sinceramente existe uma legião preparada para andar sempre pelos caminhos mais difíceis.Já vai? Não, toma mais um café. É cedo. Ainda preciso te contar umas histórias… na verdade, agora não lembro quais são essas histórias. Mas ainda há muito para contar. Afinal, foi dessa forma que Sherazade se livrou da morte e ganhou o amor eterno do rei Shariar, não foi? Hoje entendo o empenho de Sherazade. É difícil encarar o fim.
Sempre depois que você sai, eu me recordo de algo que não dividi. E fico esperando a próxima oportunidade. Sim, eu sei. Não teremos outra oportunidade. Por isso acho importante você ficar mais um pouco. Assim eu tenho mais matéria-prima para recarregar minha memória, todas as vezes que precisar recorrer a ela para ter você por perto.
Está certo. Combinamos de não dar um tom melodramático. Na verdade, você combinou. A mim, me coube aceitar.
Concordo, claro. Que futuro a gente teria? Só porque nos amamos incondicionalmente, completamos a frase um do outro, rimos juntos a maior parte do tempo, temos princípios similares, os mesmos ídolos, entendemos nossas diferenças e somos nossos maiores fãs?
Como dois seres humanos que sentem que o tempo ganha cor quando um está com o outro, que são capazes de conversar por horas intermináveis sobre qualquer tema, que se apóiam e se incentivam sobre todos os aspectos podem pensar em compartilhar uma biografia? Não, seria loucura.
Imagine não ter motivos para lamentar? Acordar todos os dias e descobrir que o sonho começa junto com o toque do despertador? Encarar os problemas dando a “minimez” que eles merecem? Concretizar projetos e ser feliz para sempre? Insano: esse excesso de realizações deve ser altamente tóxico.
ESPELHO RETROVISOR
Está bem. Sem ironias. OK. Sei que prometi. Mas a ironia de tudo isso já está pronta só esperando para ser usada. Mas ficamos assim: você segue por aqui e eu por ali. Assim teremos a certeza que a felicidade, essa traiçoeira, não vai nos alcançar.
Quem sabe nos encontramos por aí, nas letras das músicas, que acreditamos piamente terem sido feitas para nós. No travesseiro com a fronha úmida. Na expectativa nossa de cada dia, de que o destino traga, de bandeja, a felicidade que não tivemos coragem de buscar e que vimos, pelo espelho retrovisor da vida, ir ficando para trás.
*Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br