As empreendedoras Michele Nascimento Souza e Bethânia Magalhães Carneiro não se conhecem, mas têm mais do que a criatividade e a paixão pelos doces em comum. Confeiteiras de mão cheia, elas também tiveram a expertise de aumentar a renda em plena pandemia, driblando a crise financeira que atingiu grande parte dos brasileiros neste ano.
Aos 36 anos, Bethânia, que mora atualmente em Montes Claros, no norte de Minas Gerais, sonhava em ser jornalista, mas foi na confeitaria que ela descobriu sua verdadeira vocação. “Amo doces desde que me conheço por gente, mas não tinha muito acesso aos ingredientes quando mais nova. Então, a vontade reacendeu quando melhorei a situação financeira, onde tive acesso à internet e revistas sobre o assunto”, conta.
E foi tudo acontecendo muito rápido na vida da empresária: ela começou a fazer bolos para os amigos, que foram indicando seu trabalho e, quando viu, já tinha tinha uma cozinha e um nome, como ela mesma diz.
Com a paulistana Michele, de 22 anos, não foi muito diferente. Ela explica que desde criança já era apaixonada pelas imagens de desenhos de doces, diz que pensou até em seguir outras profissões mas, no fim, fez a escolha certa. “No Natal de 2019, vi que aquilo era minha vida e não poderia perder tempo. Corri e pedi demissão pra seguir no ramo de confeitaria”, revela.
Só não pense que foi fácil! No começo, a jovem passou por muitos perrengues. Ela não tinha panelas, nem espátulas e tampouco um fogão ‘de verdade’. “Eu morava em uma república, o que tornava tudo ainda mais complicado por precisar dividir a cozinha. Tinha apenas R$ 100 para começar e usei para comprar ingredientes, pegando os utensílios emprestados do meu antigo serviço”, lembra.
PRIMEIROS PASSOS
Antes de entrar de cabeça na profissão, porém, Michele procurou se profissionalizar e fez um curso de confeitaria profissional justamente para melhorar suas habilidades. Helena Costa de Andrade, gestora de projetos de alimentação do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), ressalta que este é, de fato, um passo importante para quem deseja apostar na confeitaria, mas não é o único.
“Pois esse tipo de negócio exige bastante dedicação do empresário, sendo necessário ter conhecimento de culinária e se atualizar constantemente, pois o tempo todo surgem modismos e tendências” destaca.
Se você se interessa pelo ramo, assim como nossos duas entrevistadas, uma dica importante é justamente procurar o Sebrae, que pode auxiliar com consultorias e cursos presenciais e online. “Também com programas estruturados voltados para empresários do setor de alimentos, cujo objetivo é aperfeiçoar a gestão do negócio, aumentando o faturamento e reduzindo os custos”, completa a gestora.
CRESCIMENTO MESMO NA CRISE
Bethânia Carneiro viu suas vendas aumentarem durante a pandemia Foto: Mônica Leandro
Apesar do ano bastante atípico por conta da pandemia do novo coronavírus, Bethânia, que é dona da loja ‘Colher de Mãe’, conta que este foi um período em que conseguiu dar uma boa alavancada nas vendas de seu negócio. “Aumentaram muito! O doce traz calmaria e as pessoas ficaram muito ansiosas com todo esse pesadelo que estamos vivendo”, observa.
Segundo a confeiteira, o serviço de entrega -feito por meio do Ifood e de um site de delivery próprio de sua empresa- foi a melhor saída para atender a clientela. “Era um projeto que acabou saindo do papel, e hoje vendemos mais pelo delivery do que pela loja”, revela.
Para Michele também deu tudo certo. Ela, que iniciou na confeitaria, de fato, bem no início da pandemia, teve um aumento de 100% nas vendas dos doces. “Evolui três vezes mais durante esse período. Foi um tempo de muita perda, mas ganhei muito, graças a Deus”, celebra.
Assim como as vendas, cresceu também a procura por informações no setor, como afirma a gestora do Sebrae: “Percebemos que as pessoas que não são empreendedoras também estavam procurando informações para elaborar receitas, adquirir utensílios e matéria-prima para fazer bolos e tortas em casa para a família”, explica.
Ainda de acordo com Helena, foi possível perceber esse crescimento de forma tão exponencial que diversas palavras ligadas à panificação apareceram no Google Trends no primeiro semestre deste ano, além do crescimento no volume do uso de hashtags utilizadas com palavras ligadas ao setor durante 2020.
“As formalizações para o segmento de panificação, que também engloba a confeitaria, aumentaram 90% no estado de São Paulo no primeiro semestre, o que totalizou 4.517 novos microempreendedores individuais no setor”, completa a especialista.
QUAL É O SEU DIFERENCIAL?
Oferecer variedade de produtos e facilitar a entrega para os consumidores pode ser uma excelente saída na hora de se diferenciar dos concorrentes. Antes, contudo, é preciso investigar um pouco as preferências de seu público.
Além do delivery, Bethânia apostou na diversidade de doces para agradar um maior número de clientes. Hoje, ela conta com mais de 50 tipos de produtos, dentre eles bolos de festa, tortas, cones trufados, doces, palha italiana e o carro chefe: o popular bolo no pote.
Já em São Paulo, os ‘queridinhos’ do público mudam um pouco. Além dos produtos tradicionais, como bolos e docinhos de festa, os “copos da felicidade” [copo duplo de brownie com pelo menos quatro recheios diferentes] e as coxinhas de morango estão entre os mais pedidos no ateliê de Michele.
Os Copos da Felicidade são os queridinhos dos clientes de Michele Nascimento Foto: Arquivo Pessoal
DESISTIR? JAMAIS!
Que atire a primeira pedra aquele que nunca pensou em desistir de um negócio. Isso, inclusive, já passou pela cabeça de Michele por diversas vezes. “Não é fácil e é bem cansativo, pois precisei abrir mão de muita coisa. Acredito, porém, que não é a confeitaria que me traz isso e sim o empreendedorismo, a questão de criar uma empresa e começar do zero torna tudo mais complicado e cansativo. E sei que outras pessoas também sentem isso’, destacou.
Bethânia confessa que também já pensou no assunto algumas vezes, mas a ideia- ainda bem – ficou no passado. A mineira até listou alguns erros que já cometeu e que serviram de aprendizado. “Já errei muito no contato com cliente, em não me posicionar. Já errei em pegar encomendas sem saber se daria conta. No começo, a precificação é difícil, cobrar de amigos é difícil, se reerguer após um erro é dificílimo também”, aponta.
SERÁ QUE É O MOMENTO DE INVESTIR EM UM NEGÓCIO?
Com a pandemia, muitos ficaram desempregados e sem uma fonte de renda. Exatamente por tudo isso, será que investir na confeitaria é uma boa no momento? Para a moradora de Montes Claros, sim! “Só não vá apenas pela questão de necessidade, pois é preciso ter muita paciência e carinho com a profissão também”.
Michele concorda. Para ela, as pessoas devem investir em algo que gostem, mas sempre avaliando a questão do retorno financeiro. “E então, o que vier depois disso é consequência do trabalho duro.” Além disso, a mineira dá uma dica importante para quem que iniciar neste ramo. “Se eu começasse hoje, faria antes um curso de precificação e definiria um público a atender”, aconselha.
EMPRÉSTIMO… SERÁ QUE VALE A PENA?
Helena Costa de Andrade, do Sebrae, explica que, atualmente, existem diversas linhas de crédito disponíveis para quem deseja começar. Neste ponto, é importante fazer uma pesquisa e ver qual banco oferece a taxa de juros mais atrativa -ou seja, a que faça você pagar o menos possível pelo empréstimo.
Também é importante ficar atento no quanto o valor da parcela vai comprometer o orçamento da empresa e se tal investimento vai realmente impactar no aumento de faturamento do negócio. Uma outra preocupação é ter sempre dinheiro em caixa (o famoso capital de giro) para arcar com as despesas por pelo menos seis meses.
“Assim, neste período, e caso a empresa não dê lucro, a empreendedora não entrará no vermelho, evitando o risco de contrair mais dívidas e atrasar o empréstimo realizado”, alerta a especialista.
Segundo Helena, uma linha que tem sido bastante utilizada no estado de São Paulo é a do Programa ‘Empreenda Rápido’, onde o empresário pode obter uma linha de crédito de até R$8.100,00 com taxas bem baixas, de até 0,75% ao mês, com um prazo de até 36 meses para pagar e até três meses de carência.
“Vale lembrar ainda que o Sebrae oferece todo o suporte necessário para quem deseja investir nesse mercado através de cursos e consultorias”, completa.
DICAS DO SEBRAE: