Mais fácil confiar no amor que fala baixinho, que sussurra sutilezas do que naquele que esbraveja aos quatro ventos. Porque o amor exibido pode ser, mas tem altas chances de não primar pela sinceridade. Corre o risco de ser apenas um show procurando aplausos ou curtidas nas redes sociais.
É quando ninguém está olhando que o amor se manifesta em sua forma mais pura, mais delicada. Mas é uma linguagem tão sutil, que só a compreende quem está com os sentidos apurados para decifrar o idioma.
A mãe que recomenda levar o agasalho todas as vezes que você sai de casa está fazendo uma declaração rasgada, que talvez só seja decifrada muitos anos mais tarde: na verdade, é a maneira dela tentar te manter aquecido como quando morava dentro dela. O aroma do café fresco, passado na hora, também é um bilhete amoroso, avisando que você não está sozinho àquela hora da manhã.
Tem o “eu te amo, meu filho” não dito, mas expressado pelo pai que deixa o portão sem a tranca todos os dias para facilitar sua entrada. O portão destrancado está gritando que a casa fica mais alegre com sua presença.
Assim como o amor reside nas vistas grossas, que deixam passar os equívocos que seus pais cometem, depois que a cabeça já não processa as informações como antes. Desconsiderar os esquecimentos involuntários e repetir a mesma história quantas vezes for necessário é uma prova de amor irrefutável.
ENTRE PARES
A gente percebe que o amor tomou conta do nosso coração quando separa o pedaço mais caprichado do bolo para o namorado. E se ele segura o guarda-chuva em sua direção, sem se importar de deixar metade do corpo dele encharcada, recita o poema de amor mais bonito.
Existe, sim, a possibilidade de o amor estar na joia da loja cara, mas é certeza que estará no chocolate da marca predileta, comprado em qualquer supermercado e deixado dentro da bolsa, sem aviso prévio, para adoçar seu dia e sua alma. Dá para ler um “amo você” quando todas as sementinhas da melancia foram retiradas antes de a fatia ser servida.
Não é necessariamente com o buquê de rosas colombianas, recebido no meio do expediente, na frente de todo mundo no dia do seu aniversário, que se reconhece um “estou apaixonado”. Contudo, certamente a mensagem estará clara e pulsante se uma flor aleatória, dessas que nascem em todo lugar, for deixada em cima de sua mesa de trabalho.
Existe amor para ser colhido até nas mentirinhas brancas quando, ao abrir os olhos, a pessoa mais importante da sua vida pergunta se roncou e você nega com convicção. Porque velar o sono de quem a gente ama – roncando ou não – retrata um lindo testemunho de amor.
*WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br