Olá, pessoal! Meu nome é Priscila, sou jornalista e mãe de dois meninos: Theo, de 9 anos, e Benjamin, de 3 anos. Maternidade, para mim, é uma palavra que carrega muitos significados. São aprendizados, ensinamentos, transições, crescimento, medo, coragem, preocupação, afeto, força, fraqueza, emoção, responsabilidade e, sobretudo, um recomeço.
Hoje, assim como na maternidade, começo um novo momento do Aventuras Maternas, como colunista de AnaMaria. Fico imensamente grata por essa oportunidade de abrir mais um espaço de diálogo, e não apenas para expor as maravilhas maternas, como também as desventuras que fazem parte da nossa rotina.
Escrevo sobre o assunto há 15 anos, quando nem sonhava em ter um bebê. Meu interesse sobre o tema despertou quando conheci uma mulher que tinha carreira de sucesso numa grande empresa, mas que decidiu empreender após o parto de sua primeira filha.
Inspirada nas necessidades da filha, e sem se imaginar de volta à rotina empresarial, ela mudou tudo e se lançou de cabeça na piscina vazia do empreendedorismo materno. E, sim, a piscina é vazia e essa transição não é nada romântica, como muitos fazem parecer.
BEM-VINDA À CULPA MATERNA!
Só para começo de conversa, a realidade da maioria das mulheres é: pouco investimento, solidão (pela falta de apoio da família), muita criatividade e vontade de fazer acontecer.
Tudo isso ao lado de um bebê que precisa de sua presença afetiva, culpa e uma série de demandas que incluem assumir funções que vão da criação à administração, passando por contabilidade, marketing e atendimento, sem horário para fechar ou abrir.
São 24 horas de trabalho e responsabilidades, sete dias por semana e um trabalho invisível enorme, que nem ao menos é notado por quem compartilha a rotina.
EM BUSCA DE SOLUÇÕES
E é por tudo isso que, nesta primeira coluna, vamos abordar o empreendedorismo materno, que tanto cresceu no último ano. E, mais uma vez, sem romantismo algum. Afinal, em tempos de pandemia, as mães foram as primeiras a perderem seus empregos, na hora dos cortes salariais. O tempo passa, mas o antigo preconceito com o maternal continua motivando demissões e invalidando contratações.
O resultado, de acordo com último dado disponibilizado pelo Pnad Contínua, do IBGE, foram 8,5 milhões de mulheres fora do mercado de trabalho em 2020, levando a um consequente crescimento de 40% no empreendedorismo feminino. Em resumo, milhares de mães se viram obrigadas a buscar soluções na cozinha de casa, nas plantas, nas roupas infantis ou em alguma outra ideia que pudesse trazer sustento para suas famílias.
E AGORA?
E foi exatamente isso que Dani Junco, fundadora da B2Mamy, primeira empresa que capacita e conecta mães ao ecossistema de inovação e tecnologia, justamente para que elas sejam líderes e livres economicamente, contou em entrevista à coluna.
“O que mais impulsiona uma mãe a abrir um negócio é a perda do emprego: a cada 10 mulheres, 4 saem dos seus empregos após a maternidade”. Ela disse ainda que a busca pela flexibilidade de ter a própria empresa permite melhor controle sobre a jornada, assim como a vontade pessoal.
Mas, o que é preciso saber para começar? Veja essas 3 dicas:
1 – VÁ PARA CIMA: seja gentil com as pessoas e agressiva com os números. É preciso saber usar os números do seu nicho a seu favor, para não deixar eles te derrubarem.
2 – ENTENDA O PROCESSO: fique atenta a todo o processo de vendas, desde o marketing, tecnologia, exposição, comunicação.
3 – OLÁ, COMUNIDADE: para fazermos algo novo, tudo fica muito mais fácil quando não estamos sozinhas, tanto para as conexões e networking, quanto para capacitação e aprendizado de conteúdos.
Também é um fato que histórias de empreendedorismo materno inspiram outras mulheres a investirem no próprio negócio. Fui atrás de três mulheres que criaram suas empresas após a chegada dos filhos, tendo como inspiração a vontade de compartilhar a jornada do crescimento da criança com a de suas empresas. Vamos conhecê-las?
Grasiela Camargo (Foto: Arquivo Pessoal)
DESCONTOS PARA TODOS
A história de Grasiela Camargo começou em 2010. Criadora do ‘Clubinho de Ofertas’, ela teve a ideia de empreender na época em que a filha, Júlia, tinha três anos e começou a frequentar o teatro. A vida ficou mais cara e a ideia foi criar uma bilheteria digital, que conseguisse descontos especiais para as famílias, incluindo adultos. Com a pandemia, no entanto, seu negócio paralisou da noite para o dia.
Ao ver todos os eventos culturais serem cancelados por tempo indeterminado, precisou ajustar a rota e se manter “hibernada”, mantendo o mínimo enquanto as coisas não voltassem. “Em um momento como este temos que avançar quando os eventos estão funcionando, mas também ter em mente que tudo pode voltar a fechar novamente e com isso precisamos manter as reservas e ir melhorando aos poucos”, conta.
Outro ponto importante é que sua filha também cresceu neste período. Agora uma adolescente de 13 anos, ela abriu a mente empreendedora de Grasiela para ampliar o público através de novas ofertas para adolescentes e jovens adultos. “Julia me ajuda na busca de novas atrações para este público como os parques de diversão, parque de trampolim. E eu levo ela para testar os eventos, como o novo parque do Rio, o Tivoli Park”, destaca.
QUAL É A PRINCIPAL DICA?
Para as mães que também querem começar a empreender, ela indica a organização de horários como item principal. “Vida de mãe que trabalha em casa é difícil porque está tudo junto: o lar, a família, o trabalho. Organizar a rotina e fazer combinados com os filhos e a família é fundamental para manter a produtividade e a harmonia”, diz.
Também é essencial deixar claro o motivo e a importância de seu trabalho, do quanto isso significa e os resultados que trazem ara o bem da família. “Gerando empatia e compreensão de todos”, completa.
RESPEITO E EMPODERAMENTO
Camila Brito é idealizadora do ateliê que leva seu nome e decidiu empreender alguns meses antes da pandemia começar. Mãe solo, se inspirou na busca pela representatividade e em um caso de racismo sofrido pelo filho, Enzo Gabriel, de 11 anos, na escola.
“Tenho cerca de 50 produtos que traduzem respeito e empoderamento da mulher e das crianças negras. São acessórios, camisetas, bolsas, canecas e a linha infantil chamada Afrokids, inspirada pelo meu filho, que também é meu modelo”, conta.
A empreendedora Camila Brito (Foto:Arquivo Pessoal).
Ela comenta também que, por causa das dificuldades do isolamento, precisou repensar algumas peças da marca e criou alguns itens como regata básica, brinco de resina, cestas de café da manha, além de muitas promoções para conquistar o público.
“Na minha visão, as pessoas estão mais controladas com os gastos, visto que estamos trabalhando para comer e pagar contas. Minhas vendas diminuíram 70%, entrei em desespero. Coloquei meu estoque em promoção e, mesmo assim, foram dias desesperadores. Fiz algumas rifas para me ajudar a manter o negócio de pé. Está dando super certo e sigo na luta”, complementa.
QUAL É A PRINCIPAL DICA?
Para as mães que também querem empreender, Camila lembra que é preciso acreditar no sonho, ser persistente, resiliente, amar o que faz e correr atrás. “Eu iniciei o Ateliê com R$ 100 e a vontade de fazer acontecer. Vendo pelo Instagram e este é só o começo. Quero ser uma empresa mundialmente reconhecida no mercado afro”, afirma.
AJUDANDO OUTROS PAIS
Lú Brito começou a empreender em 2015, após um pedido de demissão bem difícil, por causa da necessidade de conciliar carreira e maternidade, além da falta da rede de apoio para ajudar com as três filhas. Em casa, com tempo e internet disponíveis, pensou inicialmente em um blog.
“Mas me encontrei nos eventos, montando espaço kids em casamentos. A intenção é que os pais pudessem levar seus filhos nas festas, sem o dilema de não ter com o que brincar. Com o espaço, pais e filhos curtem o mesmo evento, mas cada um com a sua própria diversão”, explica.
Lu Brito abbraçou a oportunidade. (Foto:Arquivo Pessoal)
Ela lembra que, em março de 2020, quando tudo fechou e os pais precisaram ficar em casa com os filhos, percebeu pelos grupos de mães nas redes sociais a demanda de um novo serviço e apostou na reinvenção.
“Criei o Kids Home, uma box delivery, com materiais para colorir, brincar, pintar, montar, muito giz de cera, joguinhos, folha em branco e bolha de sabão, materiais importantes para o momento que as crianças consomem muita energia e os pais se vêem em casa com reuniões online intermináveis”, conta Lú.
*PRISCILA CORREIA é jornalista, especializada no segmento materno-infantil. Entusiasta do empreendedorismo materno e da parentalidade positiva, é criadora do Aventuras Maternas, com conteúdo sobre educação infantil, responsabilidade social, saúde na infância, entre outros temas. Instagram: @aventurasmaternas