Simone Mendes, da dupla com Simaria, deu à luz a Zaya, sua filha mais nova, em 23 de fevereiro. Semanas depois, em seu Instagram, a cantora se queixou de cólicas e sangramentos contínuo, que atrapalhavam suas relações sexuais e estilo de vida. A causa disso tudo era a adenomiose. Em seu canal do Youtube, na última quinta (3), ela reforçou que tentou de tudo mesmo, mas nada adiantou. Como a sertaneja já havia realizado uma laqueadura, o médico optou pela retirada do útero – em uma cirurgia chamada histerectomia.
“Ao longo deste período, a artista buscou outros tratamentos indicados pelo Dr. Renato Kalil – tratamento hormonal, uso de Diu Mirena e outros mais complexos – mas após exames e em consenso entre a artista/médico, optou-se por uma histerectomia, realizada por videolaparoscopia, para a retirada do útero, uma vez que a artista já havia realizado a laqueadura após o nascimento de Zaya. Simone passa bem e segue repousando após o procedimento“, concluiu a equipe.
TIPOS DE HISTERECTOMIA
De acordo com o ginecologista e obstetra Geraldo Caldeira, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP), existem duas maneiras de se realizar uma histerectomia: a total e a subtotal. Na primeira, remove-se todo o útero; na segunda, há uma retirada parcial do útero, mantendo-se o colo.
Assunto polêmico entre os médicos, um grupo acredita que a paciente que continua com o colo não terá impactos em suas relações sexuais, já que células ali presentes auxiliam na lubrificação vaginal. Outros, porém, avaliam que ao deixar parte do órgão se mantém a mulher em situação de risco para o desenvolvimento de um câncer de colo uterino.
Assim, pacientes com lesões pré-malignas (como a neoplasia intraptelial vaginal, uma alteração de células no útero que pode se tornar câncer) ou que já desenvolveram o HPV (sigla para papilovírus humano, uma infecção sexualmente transmissível que pode causar verrugas genitais e está relacionada ao câncer de colo uterino) devem optar por uma remoção total.
Há ainda um terceiro tipo, chamado de histerectomia radical. Como explica o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, do Hospital Sírio Libanês e do Hospital Israelita Albert Einstein, ambos em São Paulo (SP), o procedimento visa remover todo o útero, o terço superior do canal vaginal e os aparelhos de ligação do órgão a pelve. Essa cirurgia é mais relacionada a casos de câncer, eliminando-se espaços que podem se tornar focos de disseminação da doença.
“Em pacientes mais jovens, que desejam preservar a capacidade de gerar filhos e ainda estão no estágio inicial de um tumor no colo do útero, pode-se fazer um procedimento chamado Traquelectomia Vaginal Radical, fixando o corpo do órgão diretamente ao canal vaginal”, explica.
MÉTODOS
A histerectomia pode ser realizada de quatro formas. De acordo com Pupo, a escolha leva em consideração o tamanho do útero, a necessidade de análise posterior (uma vez que, nesses casos, maneiras que ‘cortam’ o órgão não podem ser realizadas) e o trauma cirúrgico – afinal, cirurgias com corte no abdômen a recuperação demora mais. No geral, todas as opções são apresentadas, com seus prós e contras, aos pacientes, que realizam uma análise conjunta com o médico atuante no caso.
- Histerectomia Abdominal: médicos cortam o abdômen, de maneira semelhante a uma cesárea, e retiram o útero.
- Histerectomia Vaginal: cirurgiões fazem pequenos furinhos no abdômen, para retirar o colo do útero da vagina, e empurram o útero pelo canal vaginal, de maneira semelhante a um parto normal. Esse tipo é indicado para pacientes que possuem úteros pequenos ou de tamanho intermediário.
- Histerectomia Laparoscópica: ginecologistas fazem pequenos uma incisão de 1,5cm no abdômen da paciente, embalam o útero em um saquinho plástico – de maneira a evitar a disseminação de células pelo abdômen – e cortam o útero em fileiras, removendo cada uma pelo pequeno corte.
- Histerectomia Laparoscópica Robótica/Videolaparoscopia: o procedimento é igual a laparoscopia, mas se utiliza um equipamento especial no filamento do órgão e a introdução de uma pequena câmera no abdômen.
INDICAÇÕES
Em primeiro lugar, é preciso entender que a paciente perderá a habilidade de gerar filhos. Por isso, em casos mais simples, e especialmente em pacientes mais jovens, os médicos estudam diversos tratamentos – que passam por hormônios, medicamentos e inserção de DIU – antes de chegar a histerectomia.
“A cirurgia de remoção do útero é indicada em casos de sangramentos uterinos anormais – em situações que a mulher tem hemorragia toda vez que menstrua ou que não param com nenhum tratamento clínico – e miomas de grande volume (via de regra, maiores de 3cm ou com crescimento rápido, porque isso pode levar a preocupação de que estes nódulos sejam malignos). Além disso, o crescimento anormal do órgão – muito comum na adenomiose -, lesões pré-neoplásicas, aumento exagerado da camada interna do útero e cânceres, como o de colo uterino, de endométrio e os sarcomas”, explica Alexandre Pupo.
Raramente, ainda há o caso de prolapso uterino, em que o útero perde a sua sustentação interna e começa a ‘escorregar’ pela vagina. Assim, opta-se por remover o órgão para que o fundo vaginal seja fixo aos ligamentos de onde antes era o útero.
Simone durante a gestação de Zaya, filha mais nova | Instagram/@simoneses
AFINAL, O QUE É A ADENOMIOSE?
“A adenomiose é a presença de tecido endometrial entremeando as fibras musculares que formam a parede do útero. Essas ilhas respondem aos hormônios do ciclo menstrual da mesma forma que sua contraparte, o endométrio saudável, então ele vai crescer no período do ciclo e vai descamar no período menstrual”, conta Pupo.
“Só que essa descamação e esse sangramento ocorrem entre as fibras musculares do útero, causando um processo inflamatório e bastante dor e cólica. Assim, essa inflamação pode fazer com que o sangramento menstrual se acentue e se prolongue”, completa. Em alguns casos, porém, a doença pode ser assintomática.
Quando tratamentos mais simples, como o uso de hormônios, não funcionem, as camadas de tecido endometrial começam a fazer com o que o útero aumente cada vez mais, chegando a ter o volume semelhante ao de uma gravidez de 11 ou 12 semanas. As dores e sangramentos atrapalham o estilo de vida da paciente, que pode preferir pela remoção do órgão. Vale ressaltar que alguns estudos indicam que cerca de 20% das mulheres em idade reprodutiva tenham um quadro de adenomiose.
O problema se assemelha a endometriose, mais conhecida pelo grande público. A diferença é simples: na adenomiose, o tecido endometrial prejudicado se fixa a parede interna do útero; na endometriose, é na parede externa.
Qualidade de vida da paciente volta após tratamentos para estancar o intenso sangramento
PÓS-PARTO?
No caso de Simone, a remoção do útero foi realizada cerca de três meses após o parto – o que não indica nenhuma correlação entre um e outro. A histerectomia, porém, pode ser realizada após complicações no parto, embora sejam raros. “Vigência de infecção, casos de descolamento de placente, partos prematuros… Eventualmente, pode haver situações em que você não consegue coibir o sangramento pós-parto; assim, fazemos a chamada histerectomia puerperal – aquela que acontece 40 dias depois da mulher dar à luz”, afirma Pupo.
Além disso, em cesáreas, é necessário cortar a parede do útero para chegar ao feto e, depois, costurar essa abertura. Em alguns casos, essa sutura pode gerar uma cicatriz defeituosa, chamada de istmocele, que faz com que o espaço acumule sangue. Como ele fica escorrendo por um alto período de tempo e causa incômodo nas pacientes, as que não desejam ter mais filhos podem optar pela remoção do útero.
Por fim, mulheres que já tiveram vários filhos podem ter um aumento volumétrico do útero que, em alguns casos, causam sangramentos anormais. Esse incômodo pode induzi-las a histerectomia.