Mariana Maffeis, filha de Ana Maria Braga, deu à luz ao seu terceiro filho, na última terça-feira (15). Ao comunicar o nascimento do neto, com 50 cm e 3,4 kg, a apresentadora contou: “Ele é saudável e ainda está ligado ali ao cordão umbilical. Aprendi ontem com a minha filha que tem uma forma natural de se desprender e deixar o filho ir pro mundo”.
A técnica explicada pela comandante do ‘Mais Você’ é o Parto Lótus (do inglês, Lotus Birth), que consiste justamente em de não cortar o cordão umbilical após o nascimento, mantendo o recém-nascido junto à placenta da mãe até que o cordão se desprenda naturalmente do umbigo – o que pode demorar de 3 a 40 dias. Não há um consenso quanto à origem da técnica. Os primeiros registros, porém, são de grupos praticantes de Yoga na década de 1980.
A decisão trouxe à tona o debate sobre os benefícios e riscos da prática que, apesar de ganhar cada vez mais adeptas, não conta com qualquer comprovação científica e gera polêmica na comunidade médica.
BENEFÍCIOS
Crédito: Arquivo pessoal/Micheline Souza
Os adeptos ao Parto Lótus defendem que a prática é capaz de proporcionar benefícios fisiológicos e espirituais ao bebê. Entretanto, antes de conhecê-los, é importante entender as funções do cordão umbilical e da placenta em uma gestação.
Ele é o grande responsável por conectar o feto à placenta da mãe. É através do cordão que são transportados os nutrientes indispensáveis para a formação do bebê, como oxigênio, gorduras e proteínas. Na sequência, esses materiais são ‘capturados’ e metabolizados na placenta – garantindo seu crescimento e fortalecimento.
E um dos princípios do Parto Lótus é permitir que essa troca permaneça por mais tempo, como explica a doula e terapeuta ayurvédica, Micheline Souza Santos: “Acreditamos que, se o bebê fica conectado à placenta de forma natural, até que essa nutrição cesse da mesma forma, terá absorvido em total potência tudo que ela ainda teria para oferecer”.
Em termos médicos, entretanto, a ginecologista e obstetra Karen Rocha De Pauw discorda dos benefícios para a nutrição dos recém-nascidos. “A passagem de sangue dura pouco tempo após o nascimento, porque o corpo já fica pensando: ‘ai, se eu deixar isso aberto, eu vou ficar sangrando’. Então o próprio corpo do neném faz isso, começa a fechar o cordão umbilical”, pontua. Segundo a profissional, mesmo no reino animal é comum o corte do cordão umbilical logo após o nascimento.
Um método apresentado pela médica, que poderia ter função parecida à técnica Lótus, consiste em esperar apenas alguns minutos após o nascimento para cortar o cordão umbilical, exercendo pressão negativa para que o sangue possa descer, e/ou “ordenhar” o cordão, de maneira a aproveitar parte dos nutrientes restantes na placenta.
“Alguns médicos gostam de deixar o cordão umbilical até ele parar de bater, o que quer dizer que a parte do neném fecha. A partir disso, a placenta já não tem mais nenhuma função. Mesmo que a gente deixe a placenta lá, ela não está passando mais sangue pro neném. O que passou, passou, o que não passou vai ser jogado fora ou virar outras coisas”, descreve a especialista.
ESPIRITUALIDADE
Para além do campo médico, Micheline também defende os poderosos benefícios espirituais do Parto Lótus para a adaptação do recém-nascido ao ‘plano físico’. “O desligamento da memória intrauterina se torna mais suave e compreensível para este bebê, que está aterrissando num novo mundo, oposto ao de outrora, que era totalmente protegido, acolhedor e perfeito”, explica.
O processo poderia, inclusive, refletir nos próximos passos desta vida que está se formando – fazendo com que a criança se sinta mais acolhida e bem-vinda. “Aos que entendem que o processo do parto é um trauma para o bebê e para sua alma, o lótus é uma forma de fazer essa conexão ser mais suave e sutil entre o processo do espírito, alma e corpo”.
RISCOS
A ginecologista e obstetra é resistente quanto aos possíveis riscos oferecidos pelo Parto Lótus, que poderiam superar os supostos benefícios. Os principais deles são a infecção e a perda de sangue do bebê, em casos em que o cordão umbilical permaneça aberto.
“O neném tem pele, então existe essa proteção. O cordão umbilical e a placenta não, portanto ficam mais expostos. Mesmo estando mais ‘secos’, existe essa exposição e é uma carne ‘gostosa’ para bactérias, vírus… pra todo mundo”, destaca.
Outra ressalva da especialista se refere à falta de pesquisas científicas que defendem a técnica. “Neste momento, em que estamos falando tanto em ciência, ainda falta muito estudo para falar sobre os benefícios e os riscos”, pontua Karen, ao mencionar que prioriza o corte da placenta logo após o nascimento em suas pacientes.
Já para Micheline, realmente faltam estudos sobre o parto Lótus, mais porque as pessoas acreditam que não vale a pena fazer do que pela dificuldade em cuidar da placenta e possíveis riscos de infecção. “Só que isso não significa, necessariamente, que não existam benefícios”, pontua.
CUIDADOS
Uma questão importante sobre o Lótus é que, independentemente da via de parto realizada (normal, natural ou cesárea), alguns critérios precisam ser considerados na hora de manter ou não a placenta – de maneira a potencializar os benefícios e minimizar os riscos.
“Ele [o Lotus Birth] depende das condições da gestação, nutrição da mãe, saúde e doenças pré-existentes, além das condições de manter esse processo de desligamento, como a assepsia adequada (com água morna e sal) para não gerar uma proliferação de bactérias”, destaca a doula.
Nesse caso, a profissional refere-se aos cuidados de esterilização, limpeza, troca de panos uma ou duas vezes ao dia e até o ato de perfumar a placenta através de ervas, como é utilizado em algumas culturas. Além disso, também é indispensável a observação diária dos sinais vitais e temperatura do bebê.
Crédito: Arquivo pessoal/Micheline Souza
Mesmo sendo contrária ao Parto Lótus, Karen destaca a importância de que, quem opte pela técnica, também possa contar com uma equipe profissional à disposição. “São coisas que ainda temos que discutir bastante e, o mais importante, sempre com muita responsabilidade, tendo gente que você confia e o apoio de um hospital por trás”, reforça.
PLACENTA
Micheline deixa um conselho final, tanto para as adeptas ao Parto Lótus como para todas as gestantes ou puérperas. A ideia é, em vez de descartar a placenta, atribuir um novo significado a esta camada indispensável para a formação da vida.
“A placenta é um órgão sagrado e nobre. É vida, bondade, acolhimento e conexão com a espiritualidade. Ela é o filtro dos sonhos, que os materializa na forma de vida, ela sustenta ou não o fluxo de nutrição e oxigênio entre mãe e bebê”, destaca a doula.
Vale fazer registros, fotos ou desenhos e, em seguida, transformar a placenta em adubo para as plantas. “É como se ela fosse cumprir a função de alimentar outra forma de vida, a de nossa Terra, o seio da mãe fértil que gera vida para todos nós. É uma forma de gratidão”, finaliza.