Passar pela covid-19 não é o único problema de quem é infectado pelo novo coronavírus. Além dele, estão sendo relatadas uma ampla possibilidade de sequelas – entre elas, problemas cardíacos. Foi o caso de Sabrina Parlatone, que sofreu um derrame no coração e, por isso, desenvolveu uma arritmia. Apesar de ter tido apenas uma forma leve da covid-19, sem ter sido intubada, a apresentadora ainda convive com um cansaço constante e zumbidos nos ouvidos.
Na última terça-feira (6), a jornalista de 46 anos recebeu a primeira dose da vacina e decidiu fazer um relato em suas redes sociais, alertando os seguidores da gravidade da doença. “Hoje é um dia bastante reflexivo pra mim. Recebi a primeira dose da vacina contra a covid-19 por me encaixar no grupo prioritário para a vacinação na minha faixa etária. Fui acometida por essa terrível doença esse ano e asseguro que não se trata de uma gripe. Tive os sintomas considerados leves, mas que nem de longe são leves. Ainda sinto cansaço, fiquei com um zumbido no ouvido e tive um derrame no coração como sequelas. Os sintomas durante a doença foram vários, incluindo uma assustadora arritmia cardíaca”, afirmou.
Ela também mencionou as mais de 500 mil vidas perdidas para o vírus – inclusive de um amigo próximo, o jornalista Rodrigo Rodrigues, que morreu há cerca de um ano. “Hoje choro e me revolto por aqueles que não conseguiram superar esse vírus, por aqueles que ficaram com sequelas graves e por aqueles que deveriam ter sido vacinados em janeiro por serem de altíssimo risco e que em função de uma injusta ordem de vacinação, morreram e continuam morrendo dessa doença. Que os culpados pela falta de vacina sejam punidos. Queremos justiça. Pensei muito no Rô [Rodrigo] hoje. Pensei muito na população pobre que vive este cenário de forma ainda mais trágica. Não é dia para se comemorar nada. Estamos longe de comemorar alguma coisa”, completou.
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DERRAME CARDÍACO COMO SEQUELA?
Sabrina sofreu de um derrame pericárdico, que corresponde ao acúmulo de líquidos (inclusive o sangue) na membrana que envolve o coração, o pericárdio, de forma inapropriada. Isto gera uma inflamação local – gatilho para uma arritmia cardíaca.
“Essa situação é, na maioria das vezes, consequência da inflamação do pericárdio, conhecida como pericardite, que pode ser causada por infecções bacterianas ou virais, doenças autoimunes e alterações cardiovasculares”, explica João Vicente, cardiologista do Hospital Sírio Libanês. No final das contas, a covid-19 não deixa de ser uma infecção viral.
Neste caso, estão em risco pacientes com mau funcionamento em qualquer uma das válvulas que mantêm o fluxo de sangue em direção ao coração. Há diversas doenças que estão neste espectro, que vão desde a insuficiência (quando a válvula não se fecha direito, provocando um ‘refluxo’ de sangue – os famosos ‘sopros’) até a estenose (quando a abertura da válvula está alterada).
Este último caso afeta o ventrículo esquerdo, uma das quatro áreas que formam o coração – afinal, a estenose provoca uma dificuldade do fluxo de sangue do átrio esquerdo e dos pulmões para o ventrículo. Assim, o perigo é ainda maior.
A covid-19 também pode desenvolver miocardite e miopericardite – inflamações no coração, sendo uma no músculo e outra na membrana que reveste o órgão -, cardiomiopatia (doença em que as câmaras do coração aumentam de tamanho, de maneira a dificultar o fornecimento de sangue para o restante do corpo) e infarto agudo do miocárdio.
Apesar da maioria dos casos serem leves, chegando a passar despercebidos, alguns envolvem arritmias e insuficiências cardíacas, como o quadro de Sabrina Parlatone. Os sinais são dor forte no peito, falta de ar ou alterações no ritmo cardíaco. Segundo o médico, existe tratamento para todas elas; ainda assim, isso favorece o desenvolvimento de hipertensão arterial sistêmica – a pressão alta, que possui uma série de outras complicações. Leia a matéria sobre isso aqui.
“A forma mais eficiente de evitar é não contrair a doença, através das medidas sanitárias, uso de máscara e álcool em gel e ser submetido a vacinação”, completa o cardiologista.