Após 20 anos de exibição original, ‘O Clone’ estará de volta nas telinhas da TV Globo, durante o ‘Vale a Pena Ver de Novo’. Além dos fãs, quem também está ansiosa para acompanhar os encontros e desencontros entre Jade (Giovanna Antonelli) e Lucas (Murilo Benício) é a própria autora da trama, Glória Perez.
‘O Clone’ aborda clonagem humana e cultura árabe por meio do amor proibido entre Jade, descendente de marroquinhos e seguidora da religião muçulmana, e o brasileiro Lucas. Além da história principal, uma série de núcleos chamaram a atenção do público: seja a campanha antidrogas protagonizada por Mel (Débora Falabella), Nando (Thiago Fragoso) e Lobato (Osmar Prado); o bar da dona Jura (Solange Couto), que reunia os moradores de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, e recebia uma série de visitantes ilustres; e até das ambiciosas Karla (Juliana Paes) e Dona Odete (Mara Manzan) – dona do famoso bordão “cada mergulho é um flash”.
“Sinto muita alegria em revisitar esse universo. E acho que esse é um dos motivos que levam o público a gostar tanto de rever novelas. Durante um tempo das nossas vidas convivemos com os dramas daqueles personagens, eles se tornam íntimos de nós. Revê-los é revisitar também um tempo do nosso passado. ‘O Clone’ foi um trabalho maravilhoso de fazer, era uma equipe tão unida, tão apaixonada… Isso transparece na tela”, conta a autora.
Confira uma entrevista super especial com Glória!
O que sentiu quando soube que ‘O Clone’ iria ao ar novamente 20 anos após a exibição original?
Alegria, muita alegria de revisitar esse universo. E acho que esse é um dos motivos que levam o público a gostar tanto de rever novelas. Durante um tempo das nossas vidas convivemos com os dramas daqueles personagens, eles se tornam íntimos de nós. Revê-los é revisitar também um tempo do nosso passado. ‘O Clone’ foi um trabalho maravilhoso de fazer, era uma equipe tão unida, tão apaixonada. Isso transparece na tela.
Relembre um pouco o processo de pesquisa para escrever a novela, como se aprofundou na cultura muçulmana e no tema da clonagem humana.
Fiquei 20 dias no Egito e também cerca de 20 no Marrocos, convivendo com pessoas típicas do local. Era isso o que eu queria buscar: o muçulmano médio.
Fiz amizade com o guia que nos acompanhou na viagem e convivi muito com a família dele, com os amigos dele, de modo a poder observar os costumes, as maneiras, a forma como viam a si próprios e como nos viam também. Por outro lado, estive em diálogo constante com o sheik Jihad, que me presenteou com um Alcorão. Li o Alcorão e dali retirei os ensinamentos do progressista tio Ali (Stênio Garcia) e do fundamentalista tio Abdul (Sebastião Vasconcellos). Tivemos sempre o maior cuidado para não ferir suscetibilidades religiosas.
O que a levou a unir os dois assuntos – cultura muçulmana e clonagem humana – em uma mesma história?
O ponto de partida foi a ovelhinha Dolly. Se era possível clonar uma ovelha, não seria possível clonar um ser humano? Quis falar dos conflitos de identidade inerentes a uma experiência assim. Como se sentiria uma pessoa feita em laboratório como cópia de outra? Quis falar dos limites éticos da ciência, e para isso resgatei duas personagens icônicas de ‘Barriga de Aluguel’: o humanista Dr. Molina (Mário Lago) e a transgressora Miss Brown (Beatriz Segall). Para se contrapor a esse ocidente que desafiava Deus criando a vida, fui buscar uma sociedade inteiramente submetida a Deus: os muçulmanos. Por isso eles entraram na trama.
A novela também abordou o uso de drogas, que infelizmente ainda assombra muitas famílias. Como foi a pesquisa para retratar o tema e o resultado da campanha socioeducativa?
Meu método é antropológico: chego perto, convivo. Percebia que tudo o que sabia sobre dependência química era a visão da polícia, dos médicos. E quis observar os dependentes. Pensar a campanha do ponto de vista deles. Essa foi a chave de ela ter sido tão bem-sucedida. Frequentei muitas clínicas, conversei com pessoas internadas e com outras que tinham conseguido superar a dependência. A trajetória de Mel (Débora Falabella) foi intercalada com depoimentos de dependentes, internados ou não, contando sua experiência, seu fundo de poço. E também de seus familiares. Era o recado duro e sofrido de quem vivia o problema. E foi imensa a escuta. A campanha recebeu prêmio da Sociedade de Medicina e repercutiu até no exterior: nos Estados Unidos ganhamos prêmios do FBI e do DEA.
Os bordões ganharam as ruas e nunca foram esquecidos. Como foi a criação deles?
Os bordões nascem da escuta. De andar na rua, de frequentar ambientes populares, como a gafieira, por exemplo.
Como você acredita que a novela será recebida agora, já que nossa sociedade está em constante mudança?
O ser humano é essencialmente o mesmo, desde que o mundo é mundo. Seus instintos básicos estão ali. Cada época valoriza algumas dessas características e reprime outras, mas a essência não muda. É nisso que eu foco. Acredito que quando você consegue tocar o humano, as histórias se tornam atemporais. Podem ser compreendidas em qualquer época e por culturas muito diferentes.
O que ‘O Clone’ representa em sua tão bem-sucedida carreira?
Representa muito. Escrever é uma maneira de buscar compreender o universo que você retrata. De ampliar sua visão de mundo. ‘O Clone’ me deu isso. E me encheu de emoção pelas vidas que foi capaz de tocar, fazendo com que tantos dependentes químicos buscassem tratamento por vontade própria, que suas famílias compreendessem o que se passava com eles, e que muitas pessoas, impressionadas com a crueza com que a história foi contada, tenham desistido de experimentar a droga.
Imaginava que Dona Jura e o núcleo de São Cristóvão ficaria tão popular? Para quais personagens ou núcleos mais gostava de escrever?
Ah, imaginava sim. Dona Jura é a cara da mulher brasileira que toca a vida sozinha. Não tinha preferencias por nenhum núcleo. Todos eles eram essenciais para o resultado final do quadro que eu queria mostrar.
De volta a partir do dia 04 de outubro, ‘O Clone’ é escrita por Gloria Perez, com direção de núcleo e geral de Jayme Monjardim, direção geral de Mário Márcio Bandarra e Marcos Schechtmann, e direção de Teresa Lampreia e Marcelo Travesso. A novela também traz no elenco nomes como Juca de Oliveira, Eliane Giardini, Adriana Lessa, Reginaldo Faria, Vera Fischer, Antonio Calloni, Letícia Sabatella, Marcello Novaes, Neuza Borges, Nívea Maria, Stênio Garcia, Jandira Martini, Dalton Vigh, Carla Diaz, Juliana Paes, Daniela Escobar, Cristiana Oliveira, Cissa Guimarães, Marcos Frota, Thais Fersoza, Victor Fasano, Beth Goulart, Luciano Szafir, Nívea Stelmann, Raul Gazola, Myriam Rios, Roberto Bonfim e Elizângela, entre outros.