Leona Cavalli traz no currículo 12 novelas, 15 filmes e 20 peças. Ela já roubou a cena no remake de ‘Gabriela’ e atuou em ‘Amor à Vida’, ‘Órfãos da Terra’, ‘Totalmente Demais’, ‘A Vida da Gente’, entre outras, na Globo. Na Record TV, fez a trama ‘Apocalipse’. Na peça ‘O Gatão de Meia Idade’ interpretou oito personagens diferentes – só muita competência pra segurar um rojão desses, né?
Marca presença ainda nos filmes ‘A Cerca’ e ‘Águas Selvagens’ e interpretará Iris Abravanel na série ‘O Rei da TV’, no Star+, sobre a vida de Silvio Santos. Ela é mesmo uma fera em frente das câmeras… e por trás delas também!
Embaixadora do projeto Juntos pela Cura, que facilita o acesso à população a testes rápidos de covid, ela prova a que veio na literatura. O livro ‘Belabelinha’, de sua autoria, a fez desempenhar outro nobre papel na vida real. Ela visitou hospitais para contar às crianças a história da boneca que sonha ser humana para ter um coração e amar.
Dona de um positivismo nato, a artista não fecha os olhos aos problemas, mas mantém viva a esperança de dias melhores: “Por maiores que pareçam as dificuldades, sempre é e será possível uma transformação, um caminho de cura, uma solução luminosa”. Salve, Leona, que comemora junto com AnaMaria bodas de prata na carreira!
Como é receber o papel para interpretar ninguém menos que a ‘dama’ de Silvio Santos, o homem-sorriso da televisão?
É uma alegria interpretar uma personagem inspirada em alguém que está vivo, uma mulher atuante como escritora, e tão fundamental na história de uma das pessoas mais importantes da televisão brasileira. E numa série escrita, dirigida e produzida com linguagem ousada, mostrando aspectos surpreendentes da vida dessas pessoas públicas. Tudo de bom!
O espetáculo ‘Gatão de Meia Idade’ retrata a busca pelo amor na meia idade. Para você, essa busca é algo complexo?
Amor não tem tempo nem forma, nunca foi algo complexo pra mim. No espetáculo, eu interpretava oito mulheres, e brincava exatamente com as possibilidades de viver histórias de amor, uma bem diferente da outra.
Você ‘abriu mão’ da maternidade. Já enfrentou cobranças por causa disso?
Não enfrento cobranças pelo fato de não ter filhos – acho que pelo fato de adorar crianças e conviver com muitas. Sobrinhos, afilhados… E também por sempre ajudar a cuidar de muita gente. De outra forma, vivencio a experiência da maternidade como atriz, pois sempre fiz muitos papéis de mães. Talvez, por isso, não seja cobrada.
Por que ainda hoje muita gente considera a maternidade como algo que vem para completar a mulher?
Vejo isso como uma forma de preconceito, tanto com homens como com mulheres. Pois, antes de ser reprodutor, o ser humano foi feito para ser livre e decidir fazer o que quiser de seu destino.
E você abriria mão de um casamento por causa da carreira?
Sim, já abri mão de um casamento por causa da carreira. Pra mim, a felicidade está ligada à liberdade de fazer o que amo, e não poderia ficar com alguém que não aceitasse isso.
Como uma mulher bonita, independente, de 51 anos, sem filhos sente os olhos da sociedade?
Como já disse, convivo bem com as minhas escolhas, não me sinto cobrada e, sobretudo, não me cobro, nem penso no assunto. Em comparação à geração da minha mãe, a cobrança de determinados papéis sociais era maior. Vivemos uma mudança de paradigmas. Ainda que de forma lenta e coletivamente bem menos do que gostaríamos, as coisas estão melhorando. Muito mais pessoas estão conscientes da necessidade de respeito às diferenças, às opções de cada um, e do quanto o convívio com a diversidade é fundamental para todos.
Você está encenando virtualmente o monólogo com quase 500 anos, o ‘Elogio da Loucura’, que propõe uma reflexão sobre o nosso tempo e que guarda tantas semelhanças com aquele retratado quase cinco séculos atrás. Fale melhor a respeito desse trabalho.
‘Elogio da Loucura’ é um texto de Erasmo de Rotterdam, incrivelmente atual, que retrata a loucura como uma entidade extremamente lúcida, que mostra como pode ser curativa quando aceita e integrada; ou patológica, quando combatida. Ou seja, nos leva a refletir, com humor, profundidade e ironia sobre a loucura como cura ou como destruição. Atual, não? É interessante como as pessoas juram que foi escrita para a sociedade de hoje, mas o texto tem séculos! Por isso é um sucesso e se tornou um clássico, de comunicação imediata com o público. Assim que possível, vamos estrear também ao vivo.
Com dois livros publicados, ‘Caminho das Pedras – Reflexões de uma Atriz’ e ‘Balabelinha’, qual sua maior paixão: escrever ou atuar?
Antes de tudo sou uma atriz, que também adora escrever, dirigir, produzir… Enfim, amo atuar de diferentes formas. ‘O Caminho das Pedras’ é um livro e audiolivro, em que falo sobre meus processos criativos, desafios na carreira e a forma como lido com eles. Dou muitas palestras, que também adoro fazer, falando sobre a obra. E o ‘Belabelinha’ é uma história infantil, inspirada numa personagem palhacinha-boneca que criei, e já fiz muitos eventos com ela, inclusive visitas a hospitais infantis. Agora estou escrevendo um outro, também sobre processos de criação. A arte de um modo geral me fascina!
Você é embaixadora do projeto Juntos pela Cura, que realiza testes rápidos de coronavírus em diversos pontos no Rio de Janeiro. De onde partiu a ideia desse projeto?
Tenho muito orgulho de ser embaixadora de um projeto que já facilitou o acesso ao teste e à prevenção da covid-19 a tanta gente. A idealização da campanha de testes rápidos e seguros e o convite para representar voluntariamente essa ação vieram do querido amigo e cineasta Wallace Meirelles e de seu irmão, Marcio Meirelles. Uma honra fazer parte de um trabalho tão nobre como esse.
A pandemia é uma oportunidade de transformação para as pessoas?
Essa trágica situação coletiva que estamos passando é um momento de muita tristeza para toda a humanidade. Mas, também, acredito que seja uma grande oportunidade de conscientização, amadurecimento e transformação para todos nós, sobretudo no sentido de respeitar a natureza e de sermos mais solidários e fraternos uns com os outros. Mesmo com a dor da partida prematura de tantos amigos e colegas, temos tido grandes movimentos de auxílio e solidariedade entre as pessoas. Eu mesma tenho participado de vários, e agradeço a Deus por poder estender a mão a quem precisa. Que possamos seguir assim, né?
Qual personagem você já interpretou e disse exatamente aquilo que você gostaria de falar naquele momento?
Tenho tido sorte de fazer personagens maravilhosos, bem escritos e, em muitos deles, sinto identificação com algum aspecto. Um deles é a pintora mexicana Frida Kahlo, que interpretei no teatro, com texto de Maria Adelaide Amaral, cheio de citações da própria Frida. Uma delas com a qual me identifico é: “Onde não houver amor, não te demores”. Outra é a atriz Cacilda Becker, que já fiz no teatro, e estou preparando uma nova homenagem a ela, para este ano ainda, com texto escrito por mim e Erikah Barbin, chamada Cacilda por Ela Mesma, com muitas frases suas, como “Viver é ir ao encontro, aceito a vida e seus mistérios”. Também na TV, a personagem Celina, da novela ‘A Vida da Gente’, reprisada recentemente, que acredita na ética como valor fundamental nas relações.
O que você busca quando precisa renovar a sua fé?
Deus. Por meio da arte e da prática dos valores universais da paz, do amor, da verdade e do respeito. Uma mensagem diante desse tempo sombrio em que vivemos… A vida vale a pena. Por maiores que pareçam as dificuldades, sempre é e será possível uma transformação positiva, um caminho de cura, uma solução luminosa para que todos tenham uma vida digna.
O que a arte agregou de bom em sua vida?
A arte é a minha vida, a inspiração e a expressão do meu amor, minha forma de sentir Deus. Como ofício, tem sido minha sobrevivência e constante aprendizado. A cada trabalho, a cada personagem, procuro me tornar um ser humano melhor.
AnaMaria e Leona… sempre juntas!
Leona defende que todo artista deve se aperfeiçoar como ser humano para melhor interpretar as aflições que atingem a humanidade. E foi com essa atitude que decidiu tomar o caminho da arte e se tornou uma importante atriz de sua geração. Para comemorar seus 25 anos de carreira e o mesmo tempo de existência da AnaMaria, ela deixa uma mensagem às leitoras.
“É uma alegria a existência da revista por 25 anos, e um presente estar com vocês ao mesmo tempo em que também comemoro 25 anos de carreira! Obrigada pelo carinho, que tenhamos muitas outras realizações registradas, para continuarmos celebrando juntas!”